LIVRO PERNAMBULANO, SIM SENHOR! PARTE 8

on terça-feira, 3 de novembro de 2020

 


A TROCA DO NOME


A família Medeiros teve seu tronco inicial na Lagoa do Meio, região que fica entre Palmeira dos Índios e Quebrangulo, mesmo local que nasceu o escritor e quebrangulense Graciliano Ramos.

Aí nasceram: Júlio, Nelson, Sebastião, José e outros irmãos, todos com o sobrenome Medeiros. Júlio Alexandre da Silva, conhecido também como Júlio Costa (no início de sua vida trabalhou com um cunhado Lourenço Costa, daí o Costa), tinha como nome de batismo Júlio Medeiros da Silva.

Quis o destino que Gumercindo Medeiros, primo legitimo de Júlio tomasse deste uma namorada. Aí o pau cantou, e Júlio não teve dúvida, foi ao cartório e trocou o Medeiros por Alexandre.

Com o passar do tempo, a rusga terminou e a amizade dos primos Júlio e Gumercindo continuou. Todos os filhos de Júlio têm Alexandre como sobrenome quando, o certo, o correto, deveria ser Medeiros. Não importa se Júlio Medeiros, Júlio Alexandre, Júlio Costa ou Seu Júlio como era conhecido, o que importa ratificar é a grande personalidade da qual foi possuidor esta extraordinária criatura.

Amigo dos amigos, tendo como característica principal do seu caráter a honestidade com que tratava seus negócios. Esta principal característica ele conseguiu incutir em cada um dos seus filhos e netos.



Gumercindo de Araújo Medeiros e sua esposa Ana Julia de Medeiros (Donana)
Ele primo legítimo de meu avô paterno e ela prima legítima da minha avó paterna
 

Cansado, chegava da labuta e soltava um suspiro característico, acompanhado de duas palavras: CARAMBA SAMPALANGÁ! (uma gíria aprendida na sua mocidade que até hoje não sabemos o significado). Desprendido das coisas materiais, e em pleno vigor da terceira idade, dividiu seus bens com todos os filhos, numa prova inconteste de amor pelos seus. Seu Júlio gostava de cozinhar e seu café da manhã tinha um prato especial: Ovos mexidos com mel de abelha, acompanhando de cuscuz de milho e leite.

Não dormia sem lavar os pés em água morna e todas as doenças ele tratava com Aguardente Alemã, Quixabeira, Sambacaitá, Aroeira, Jindiroba, Cabacinho, Mussambê. Era um amante dos produtos fitoalopáticos.

Seu grande amigo, o amigo certo de todas as horas, foi seu cunhado Silvino, que ele chamava com carinho de Compadre Sirvino.

Seu Júlio está em outra dimensão, porém seu legado de exemplos jamais será esquecido.


Júlio Alexandre e seu primeiro bisneto Alexandre Dimas - 1974

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ARTHUR DE ARAUJO PEREIRA RAMOS

“O CIENTISTA DA FAMÍLIA”

 

         Nascido em Alagoas no ano de 1903, Arthur de Araújo Pereira Ramos é filho de Dr. Manoel Ramos de Araujo Pereira e de Ana Ramos de Araujo Pereira. Dr. Manoel Ramos de Araujo Pereira sempre foi conhecido em Pilar e região como Dr. Ramos (Médico formado pela Faculdade da Bahia), sendo o mesmo o elo que liga os Araujo Pereira que ficaram na Zona da Mata Norte de Pernambuco, dos que fugiram para a região que fica entre Bom Conselho - PE e Quebrangulo - AL. Simplício Olavo de Araujo Pereira tinha por este primo uma consideração toda especial. Do casamento de Manoel Ramos de Araujo Pereira e Ana Ramos de Araujo Pereira nasceram: Luis, Evangelina, Raul, Nilo, Aluisio, Georgina, Julieta e Artur de Araujo Pereira Ramos, o nosso cientista.

            Quando o viajante alemão Hans Staden escreveu, na metade do século XVI, sua “História Verdadeira e Descrição de um país de Selvagens Despidos e Antropófagos” um relato dos costumes dos índios tupinambás. A primeira pesquisa antropológica do campo acabava de ser feita no Brasil. Três séculos depois, quando Dom Pedro I subiu a bordo dos navios que traziam imigrantes europeus e comparou sua estatura com a deles, costas as costas estavam sendo feitas as primeiras mensurações antropológicas registradas na história do país. Acasos e improvisações, no entanto, só cederam lugar aos estudos científicos no século XX, com Curt Ninuendaju, Nina Rodrigues e, entre eles, Artur de Araujo Pereira Ramos (1903 – 1949), antropólogo e folclorista, autor de 458 trabalhos originais sobre psicanálise, higiene mental, educação, religião e folclore, é hoje reconhecido como grande pioneiro da antropologia aplicada no Brasil.

            Formado em medicina, Ramos abandonou a psicopatologia em 1934 – de onde havia partido como seu mestre, Nina Rodrigues, e resolveu dedicar-se aos estudos antropológicos, publicando o livro “O Negro Brasileiro”, que projetou seu nome. Sua obra mais importante, entretanto, apesar de básica para todos os estudiosos de ciências sociais, continuava esgotada desde que a Segunda edição de 1951, foi inteiramente vendida.

            Rápidas mudanças – Em quatro volumes (“O Negro na Civilização Brasileira”, “As Culturas Indígenas”, e “As Culturas Européias”), a “Introdução” examina as culturas Negras, Indígenas, Européias e os contatos raciais e culturais no Brasil.

            Preparada durante a Segunda Guerra mundial reúne todo o conhecimento da época sobre o homem brasileiro, suas origens e manifestações. Embora a bibliografia que Ramos relacionou daquele período lhe era estranha, sua obra se ressente, em alguns pontos, das transformações que a antropologia, ciência nova, sofreu durante as rápidas mudanças operadas no mundo nos últimos trinta anos. Os dados antropométricos, por exemplo, muito usados numa época em que fé e propaganda política falava em tipos branquicéfalos (indivíduo cujo crânio tem forma de um avo) e delicocéfalo (indivíduo cuja largura do crânio tem quatro quintos do comprimento), foram depois relegados a segundo plano na antropologia. Pequenas omissões, porém, não são suficientes para reduzir a importância da obra de Artur Ramos, antes de tudo pioneira e vasta.

            A dignidade do homem – De fato, sua “Introdução à Antropologia Brasileira” compõe um mosaico que representava gente de todas as nacionalidades convivendo pacificamente no cenário rico e único de um grande país acolhedor, trazendo e fundindo suas culturas de origem, para a formação de algo ainda indefinido, mas de grandeza previsível. Negros, Índios, Judeus, Holandeses, Portugueses, Espanhóis, Ingleses e Franceses, imigrantes de todas as latitudes, enriquecendo o patrimônio de um país, somando culturas, temperamentos, tipos físicos diversos – essa a visão global transmitida pela obra de Artur Ramos.

            Alguns conceitos modernos, entre eles o de desenvolvimento, surgiram desse trabalho, em que se evidenciava antes de tudo a preocupação com o bem-estar e a dignidade do homem. Em conferência que realizou em 1941, na Sociedade Brasileira de Antropologia – é o etnólogo Manuel Diegues Junior quem lembra no prefácio de um dos volumes -, Arthur Ramos pregava a aplicação dos resultados da antropologia à solução dos problemas do homem brasileiro. Sem esse sentido, ele achava que essa ciência social perdia muito do seu significado e corria o risco de passar por um jogo fascinante, mero entretenimento intelectual.



Dr. Manoel Ramos de Araújo Pereira, médico (1920), 
primo legítimo de Simplício de Araújo Pereira 
e pai do Dr. Arthur de Araújo Pereira Ramos

Essas conclusões, de certa maneira, ficam enfeixadas pelo quarto volume da “Introdução”, dedicado ao que o autor chama de “a grande aventura européia em terras do Brasil”. Nele, Arthur Ramos traça com minúcias as características raciais das principais correntes migratórias que ajudaram a compor a população brasileira e continuaram gerando tipos novos e imprevistos.

            Apesar de sua idade, a obra de Arthur Ramos, especialmente nesses estudos, permanece atualizada – por sua imensa coleta de material e por sua exposição pormenorizada. Médico, Professor, Chefe do serviço de Higiene Mental do antigo Distrito Federal e Chefe do Departamento de Ciências Sociais da UNESCO, em Paris, Arthur Ramos não teve, muitas vezes, por premência de tempo ou por modéstia, a intenção de interpretar, a não ser em suas linhas gerais, a infinidade de dados de que dispunha. Mas a realidade em que baseou sua obra não envelhece nem depende de pontos de vista. No museu da Casa de José de Alencar em Fortaleza tem um espaço científico para este grande cientista, e na cidade de Pilar-AL, terra natal de Arthur Ramos, existe outro museu na casa que nasceu o ilustre parente.



José Roberto e suas irmãs Goretti e Silvana – 1957


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