A TROCA DO NOME
A família Medeiros teve seu tronco
inicial na Lagoa do Meio, região que fica entre Palmeira dos Índios e
Quebrangulo, mesmo local que nasceu o escritor e quebrangulense Graciliano
Ramos.
Aí nasceram: Júlio, Nelson, Sebastião,
José e outros irmãos, todos com o sobrenome Medeiros. Júlio Alexandre da Silva,
conhecido também como Júlio Costa (no início de sua vida trabalhou com um
cunhado Lourenço Costa, daí o Costa), tinha como nome de batismo Júlio Medeiros
da Silva.
Quis o destino que Gumercindo Medeiros,
primo legitimo de Júlio tomasse deste uma namorada. Aí o pau cantou, e Júlio
não teve dúvida, foi ao cartório e trocou o Medeiros por Alexandre.
Com o passar do tempo, a rusga terminou
e a amizade dos primos Júlio e Gumercindo continuou. Todos os filhos de Júlio
têm Alexandre como sobrenome quando, o certo, o correto, deveria ser Medeiros.
Não importa se Júlio Medeiros, Júlio Alexandre, Júlio Costa ou Seu Júlio como
era conhecido, o que importa ratificar é a grande personalidade da qual foi
possuidor esta extraordinária criatura.
Amigo dos amigos, tendo como
característica principal do seu caráter a honestidade com que tratava seus
negócios. Esta principal característica ele conseguiu incutir em cada um dos
seus filhos e netos.
Cansado, chegava da labuta e soltava um
suspiro característico, acompanhado de duas palavras: CARAMBA SAMPALANGÁ! (uma
gíria aprendida na sua mocidade que até hoje não sabemos o significado).
Desprendido das coisas materiais, e em pleno vigor da terceira idade, dividiu
seus bens com todos os filhos, numa prova inconteste de amor pelos seus. Seu
Júlio gostava de cozinhar e seu café da manhã tinha um prato especial: Ovos
mexidos com mel de abelha, acompanhando de cuscuz de milho e leite.
Não dormia sem lavar os pés em água
morna e todas as doenças ele tratava com Aguardente Alemã, Quixabeira,
Sambacaitá, Aroeira, Jindiroba, Cabacinho, Mussambê. Era um amante dos produtos
fitoalopáticos.
Seu grande amigo, o amigo certo de
todas as horas, foi seu cunhado Silvino, que ele chamava com carinho de
Compadre Sirvino.
Seu Júlio está em outra dimensão, porém seu legado de exemplos jamais será esquecido.
ARTHUR DE ARAUJO PEREIRA RAMOS
“O CIENTISTA DA FAMÍLIA”
Nascido em Alagoas no ano de 1903, Arthur
de Araújo Pereira Ramos é filho de Dr. Manoel Ramos de Araujo Pereira e de Ana
Ramos de Araujo Pereira. Dr. Manoel Ramos de Araujo Pereira sempre foi
conhecido em Pilar e região como Dr. Ramos (Médico formado pela Faculdade da
Bahia), sendo o mesmo o elo que liga os Araujo Pereira que ficaram na Zona da
Mata Norte de Pernambuco, dos que fugiram para a região que fica entre Bom
Conselho - PE e Quebrangulo - AL. Simplício Olavo de Araujo Pereira tinha por
este primo uma consideração toda especial. Do casamento de Manoel Ramos de
Araujo Pereira e Ana Ramos de Araujo Pereira nasceram: Luis, Evangelina, Raul,
Nilo, Aluisio, Georgina, Julieta e Artur de Araujo Pereira Ramos, o nosso
cientista.
Quando
o viajante alemão Hans Staden escreveu, na metade do século XVI, sua “História
Verdadeira e Descrição de um país de Selvagens Despidos e Antropófagos” um relato
dos costumes dos índios tupinambás. A primeira pesquisa antropológica do campo
acabava de ser feita no Brasil. Três séculos depois, quando Dom Pedro I subiu a
bordo dos navios que traziam imigrantes europeus e comparou sua estatura com a
deles, costas as costas estavam sendo feitas as primeiras mensurações
antropológicas registradas na história do país. Acasos e improvisações, no
entanto, só cederam lugar aos estudos científicos no século XX, com Curt
Ninuendaju, Nina Rodrigues e, entre eles, Artur de Araujo Pereira Ramos (1903 –
1949), antropólogo e folclorista, autor de 458 trabalhos originais sobre
psicanálise, higiene mental, educação, religião e folclore, é hoje reconhecido
como grande pioneiro da antropologia aplicada no Brasil.
Formado
em medicina, Ramos abandonou a psicopatologia em 1934 – de onde havia partido
como seu mestre, Nina Rodrigues, e resolveu dedicar-se aos estudos
antropológicos, publicando o livro “O Negro Brasileiro”, que projetou seu nome.
Sua obra mais importante, entretanto, apesar de básica para todos os estudiosos
de ciências sociais, continuava esgotada desde que a Segunda edição de 1951,
foi inteiramente vendida.
Rápidas mudanças – Em quatro volumes
(“O Negro na Civilização Brasileira”, “As Culturas Indígenas”, e “As Culturas
Européias”), a “Introdução” examina as culturas Negras, Indígenas, Européias e
os contatos raciais e culturais no Brasil.
Preparada
durante a Segunda Guerra mundial reúne todo o conhecimento da época sobre o
homem brasileiro, suas origens e manifestações. Embora a bibliografia que Ramos
relacionou daquele período lhe era estranha, sua obra se ressente, em alguns
pontos, das transformações que a antropologia, ciência nova, sofreu durante as
rápidas mudanças operadas no mundo nos últimos trinta anos. Os dados
antropométricos, por exemplo, muito usados numa época em que fé e propaganda
política falava em tipos branquicéfalos (indivíduo cujo crânio tem forma de um
avo) e delicocéfalo (indivíduo cuja largura do crânio tem quatro quintos do
comprimento), foram depois relegados a segundo plano na antropologia. Pequenas
omissões, porém, não são suficientes para reduzir a importância da obra de
Artur Ramos, antes de tudo pioneira e vasta.
A dignidade do homem – De fato, sua “Introdução
à Antropologia Brasileira” compõe um mosaico que representava gente de todas as
nacionalidades convivendo pacificamente no cenário rico e único de um grande
país acolhedor, trazendo e fundindo suas culturas de origem, para a formação de
algo ainda indefinido, mas de grandeza previsível. Negros, Índios, Judeus,
Holandeses, Portugueses, Espanhóis, Ingleses e Franceses, imigrantes de todas
as latitudes, enriquecendo o patrimônio de um país, somando culturas,
temperamentos, tipos físicos diversos – essa a visão global transmitida pela obra
de Artur Ramos.
Alguns
conceitos modernos, entre eles o de desenvolvimento, surgiram desse trabalho,
em que se evidenciava antes de tudo a preocupação com o bem-estar e a dignidade
do homem. Em conferência que realizou em 1941, na Sociedade Brasileira de
Antropologia – é o etnólogo Manuel Diegues Junior quem lembra no prefácio de um
dos volumes -, Arthur Ramos pregava a aplicação dos resultados da antropologia
à solução dos problemas do homem brasileiro. Sem esse sentido, ele achava que
essa ciência social perdia muito do seu significado e corria o risco de passar
por um jogo fascinante, mero entretenimento intelectual.
Essas conclusões, de certa maneira,
ficam enfeixadas pelo quarto volume da “Introdução”, dedicado ao que o autor
chama de “a grande aventura européia em terras do Brasil”. Nele, Arthur Ramos
traça com minúcias as características raciais das principais correntes
migratórias que ajudaram a compor a população brasileira e continuaram gerando
tipos novos e imprevistos.
Apesar
de sua idade, a obra de Arthur Ramos, especialmente nesses estudos, permanece
atualizada – por sua imensa coleta de material e por sua exposição
pormenorizada. Médico, Professor, Chefe do serviço de Higiene Mental do antigo
Distrito Federal e Chefe do Departamento de Ciências Sociais da UNESCO, em
Paris, Arthur Ramos não teve, muitas vezes, por premência de tempo ou por
modéstia, a intenção de interpretar, a não ser em suas linhas gerais, a
infinidade de dados de que dispunha. Mas a realidade em que baseou sua obra não
envelhece nem depende de pontos de vista. No museu da Casa de José de Alencar
em Fortaleza tem um espaço científico para este grande cientista, e na cidade
de Pilar-AL, terra natal de Arthur Ramos, existe outro museu na casa que nasceu
o ilustre parente.
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