Assassinaram o Beato Franciscano, o Frei Damião de Alagoas

on segunda-feira, 4 de julho de 2022

 

Antônio Fernandes Amorim esse era o nome de batismo da criança que nasceu em 15 de agosto de 1901 no povoado Mata Escura em Viçosa, Alagoas (há também registro que teria nascido no povoado Formigas em Paulo Jacinto). Era filho de Joaquim Barbosa Amorim (Joaquim Garapeiro) e Tertuliana Maria da Conceição, além de citar que ele teve sete irmãos e que um deles, Manoel Barbosa Amorim (Cacau), era curandeiro de animais, “sua mãe falecera durante uma viagem de peregrinação ao Juazeiro do Norte, tendo a criança ficado aos cuidados do próprio Padre Cicero, que o internou no Convento das Chagas em Canindé, Ceará.

Em 1927, com 26 anos de idade, foi transferido para Recife, onde permaneceu por poucos anos no Convento da Penha. Em Pernambuco conheceu a Ordem Terceira de São Francisco de Assis, passando a conviver com os capuchinhos italianos. Era uma organização de leigos que adotava a penitência, a fé e a caridade cristã. Esteve ainda no Convento de São Francisco, em Salvador, Bahia.

O que levou Antônio a se transformar no Beato Franciscano foi a missão que lhe atribuiu o padre Daniel em um sonho. Queria que ele construísse uma capela à Santa Terezinha e nela fossem depositados seus ossos. Inicialmente construiu uma capela em Batalha-AL, porém, foi expulso com os seguidores. O Beato comprou umas terras entre Quebrangulo e Paulo Jacinto e construiu a Vila São Francisco.

O Franciscano sabia da influência política que tinha entre os seus seguidores e utilizava esse poder para beneficiar a Vila São Francisco.

Nas eleições para a prefeitura de Palmeira dos Índios, em 1950, por exemplo, teve participação decisiva na vitória de Manoel Sampaio Luz (Juca Sampaio), sobre Humberto Mendes.

Após os primeiros anos de mandato, o prefeito não deu a atenção prometida ao povoado e o Beato, sentindo-se desprezado e traído pelo mandatário, se aproximou de Humberto Mendes por indicação do deputado Abrahão Moura.

Esse apoio garantiria a eleição para deputado estadual de Humberto Mendes nas eleições de 3 de outubro de 1954, diminuindo as chances do filho de Juca Sampaio, Geraldo Sampaio, que tentava ocupar a vaga de Remi Maia, chamado a concorrer à Câmara dos Deputados.

Como se percebe, o Beato era peça decisiva no xadrez político do agreste alagoano naqueles anos e a sua opção pelos Mendes provocou inquietação entre os políticos das famílias Sampaio e Maia.

No dia 30 de julho de 1954, uma sexta-feira, a Vila São Francisco vivia os preparativos para a tradicional festa de aniversário do Franciscano, prevista para acontecer entre os dias 12 e 15 de agosto.

No meio da tarde, dois homens vestindo grossos capotes caminhavam pela Vila fazendo perguntas sobre a vida e os costumes do Beato. Haviam chegado ao povoado na noite anterior e tinham pernoitado no mato para não chamarem a atenção.

Como não conheciam o Franciscano, pediram a um dos moradores para apontar quem era ele. Pensando se tratar de novos seguidores, o que era muito comum acontecer, foi indicado a eles um senhor baixo e magro de terno branco.

Passaram então a segui-lo e entraram logo após ele na capela de São Francisco, onde o Franciscano cumprimentou aos vários fiéis e saiu. Quando na rua, o Beato percebeu que uma lâmpada piscava em um poste defronte ao orfanato.

Passava um pouco das 8 horas da noite quando pediu para que Francisco Inácio da Silva providenciassem uma escada enquanto ia até a sua casa buscar outra lâmpada.

Estava sobre a escada rosqueando a nova luminária quando recebeu dois tiros de um dos pistoleiros e mais dois do outro. Mal conseguiu descer a escada e caiu para morrer em seguida.

Francisco Inácio tentou impedir os tiros se jogando contra os autores dos disparos, mas também foi atingido mortalmente. Para garantir que o crime tinha sido realizado como contratado, um dos assassínios aproximou-se do corpo caído do Beato e deferiu-lhe mais dois tiros à queima-roupa.

Na fuga, foram perseguidos a pé por Azarias Gracindo da Rocha e Francisco Luiz da Silva, este último também foi atingido por um dos tiros disparados. Foi socorrido e transportado para Maceió. Há a informação, não comprovada, que faleceu posteriormente.

Azarias Gracindo ainda continuou na perseguição e somente não morreu porque os assassinos não tinham mais balas. Mas só desistiu ao receber uma coronhada de revólver na cabeça.

enterro do Franciscano ocorreu na tarde do domingo, 1º de agosto, e seu caixão foi levado por uma multidão de fiéis.

Humberto Mendes, candidato a deputado, acompanhava as investigações indicando quem eram os possíveis mandantes e pressionando a Polícia a agir rapidamente.

Com o inquérito em andamentos e percebendo que a garantia de proteção dadas pelos contratantes poderia falhar, os criminosos trataram de fugir.

Um deles, Luís Rodrigues, mais conhecido como Luís Lambiqueiro, recebeu dois mil cruzeiros em Palmeira dos Índios e foi orientado a procurar abrigo em uma fazenda de União dos Palmares. De lá tomou destino ignorado e ninguém mais teve notícias dele.

José Guilherme da Silva, o Cacutá, também chegou em Palmeira dos Índios na tarde da terça-feira, 3 de agosto. Teve contato com um dos mandantes, recebeu seus dois mil cruzeiros e depois foi levado até Bom Conselho em Pernambuco.

Com a prisão de Cacutá e o confissão de várias testemunhas, a Polícia alagoana divulgou o nome de todos os envolvidos.

O jornal Correio da Manhã de 8 de setembro de 1954 noticiou a relação dos supostos responsáveis pelo crime: Remi Maia, deputado estadual e médico muito conceituado; Manoel Sampaio Luz (Juca Sampaio), prefeito de Palmeira dos Índios; Rubem Amorim, bacharel; Frederico Maia, patriarca da família Maia; Ari Maia, irmão de Remi; José Gomes e Luiz Correia. Além dos autores materiais: José Guilherme da Silva, Cacutá, e Luís Rodrigues, o Luís Lambiqueiro. Foram todos presos para julgamento.

 O júri foi marcado para o dia 20 de junho de 1955, no Clube Monte Castelo, em Quebrangulo. Os indiciados como mandantes conseguiram separar os seus julgamentos do de Cacutá, que surpreendentemente desistiu do júri popular.

O juiz Olavo Cahet presidiu o júri, que teve na acusação o promotor público de Anadia, Néo Fonseca, substituindo o titular da comarca. Seus auxiliares foram Sebastião Teixeira e João Sebastião Teixeira.

Na defesa atuaram Nelson TenórioJosé Loiola CorreiaJosé Cavalcante Manso e José Laurindo, o Juca Laurindo.

José Magalhães, José Cincinato Tenório, José Soares Sobrinho, Joaquim Florentino Tenório, José Zenou Costa, Severino de Andrade Bitu e Ataíde Teixeira da Silva constituíram o Conselho da Sentença.

Jerônimo da Cunha Lima foi o escrivão e o júri se estendeu até as três horas da madrugada.

defesa, em sua sustentação, alegou que as confissões que apontavam os quatro réus como mandantes do crime foram conseguidas através de tortura. O júri concordou e todos foram absolvidos por sete a zero.

O promotor, entretanto, apresentou apelação em relação a sentença de Ari Maia, que não chegou a participar do outro júri. Adoeceu na prisão, de onde foi retirado pelo irmão deputado para tratamento em Maceió. Não resistiu e faleceu no dia 10 de novembro de 1956 na Casa de Saúde Lessa Azevedo, depois renomeada para Paulo Netto.

No primeiro julgamento, Cacutá foi condenado a 36 anos de reclusão. Após recurso e um segundo julgamento, pegou 29 anos e 6 meses: 16 anos pela morte do Franciscano e treze anos e seis meses pela morte de Francisco Inácio da Silva. Cumpriu treze anos e meio de cadeia e saiu em livramento condicional.

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