ADEUS ZÉ ARNALDO, VELHO AMIGO!

on sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Conheci o Zé no início dos anos 60 em Rainha Izabel quando seu pai Arnaldo foi candidato pela primeira vez a Prefeito de Bom Conselho. Tínhamos na época 12 para 13 anos. Ele chegou na boleia do caminhão de Pedro Ribeiro junto com a caravana para um comício. No final desta década o Zé foi funcionário da Trans Sadia e já integrado ao MR8 movimento revolucionário que combatia a ditadura.    Preso, o Zé só não foi assassinado pelo regime militar devido o apoio do Coronel Amaral, seu parente e Secretário da Segurança em Alagoas. 

Concluído seu curso de Direito, o Zé foi trabalhar no escritório do então advogado Roberto Magalhães. Defendendo as Forças Populares e como Secretário do Prefeito Germano Coelho, o Zé foi indicado e venceu a eleição para Prefeito de Olinda em 1982. Junto com Otávio Júnior, Diretor da Rádio Olinda, fui um dos comunicadores desta campanha. Eleito, o Zé Arnaldo colocou Jacilda Urquiza para Secretária da Fazenda, dando início a jornada política da Família Urquiza em Pernambuco. Como Prefeito, o Zé realizou uma das melhores administrações do município, principalmente revitalizando a orla marítima. Foi o Zé que, através do Partido Comunista, e com o apoio do seu primo então Diretor da Rede Globo Nordeste, o Duda Amaral, que conseguiu a Rádio Papacaça para Bom Conselho, posteriormente adquirida pelo Hélio Urquiza. 

Aquele comunista ferrenho e ateu passou a defender o Evangelho e a ser um bom cristão junto com seu grande amor, a sua esposa Sandra. Quando sofri um infarto, fui salvo pelo Zé, que me levou já desmaiado para o hospital Alfredo Dâmaso.


Com a partida de Zé Arnaldo Bom Conselho fica mais pobre, pois este papacaceiro sempre foi um defensor da ética, decência e da boa política.

Paz eterna para você velho amigo. 

JOTA SOARES, O COMENTARISTA E PRECURSOR DO CINEMA PERNAMBUCANO

on quarta-feira, 31 de agosto de 2022

 

A partir do início da década de setenta do século XX e pelo trabalho exercido nas empresas que trabalhei, passei a ter contato com quase toda a imprensa pernambucana, principalmente a esportiva. Conheci o alagoano Ademar Paiva (Pernambuco, você é meu), o Valter Lins (colega de faculdade), Ivan Lima, José Santana, Júlio José, Adonias de Moura, Jaime Ubiratan, Gomes Neto, Duda Amaral, Walter Spencer (o gavião anuncia), dentre outros.

Agora o professor de todos eles, foi o sergipano de espírito pernambucano, uma das memórias mais geniais da nossa história, o José Soares Silva Filho, o Jota Soares. Eu o conheci na Rádio Olinda em 1971, ele então no auge dos seus 65 anos. Quando terminava o jogo, o espetáculo continuava com os comentários do Jota Soares. Todos da arquibancada se viravam para a cabine da Rádio Olinda e o comentário do Jota minuto a minuto. No início dos anos sessenta a TV Jornal transmitia com a narração do Jota Soares a TV Ringue Torre (luta livre) com o paraibano Ivan Gomes ganhando tudo. Falava o Jota: “enquanto a lua brilhar no céu, o sangue jorra no tablado.”



Considerado um dos precursores do cinema pernambucano, José Soares Silva Filho, conhecido artisticamente como Jota Soares, nasceu em Propriá, Sergipe, no dia 16 de junho de 1906, filho de José Soares Silva e de Maria Alves Argôlo Soares.

O entusiasmo pelo cinema foi despertado, provavelmente, na sua primeira infância quando conheceu por intermédio de pessoa amiga da família um pequeno projetor, onde seu dono passava fitas francesas de Charles Pathé (pioneiro da indústria da película e da gravação) e Georges Méliès (um dos precursores do cinema, que usava inventivos efeitos fotográficos para criar mundos fantásticos).

Por volta de 1919, além do interesse pelo cinema, Jota voltou sua atenção para os craques do futebol brasileiro. Reuniu inúmeros periódicos e livros sobre esse esporte e formou um acervo de valiosas publicações que, até hoje, é consultado por estudiosos da área.

Ainda em 1924, lançou, no Recife, o futebol de botões (ou de mesa), posteriormente chamado Futebol Celotex. Várias ligas foram formadas por Jota Soares, no Recife, espalhando-se por muitos bairros, tornando-se uma verdadeira “febre”.

O destaque para a carreira cinematográfica de Jota foi o filme A Filha do Advogado, gravado, em 1927, pela Aurora-Film, onde atuou como diretor e personagem principal. O melodrama chegou a ser exibido comercialmente em 31 salas do Rio de Janeiro. Realizou quinze filmes que foram bem recebidos pelo público e pela crítica. Entre eles, Jurando Vingar e Aitaré da Praia.

Na história do cinema pernambucano, o período entre 1923 e 1931 é conhecido como Ciclo do Recife. Nesses anos, a cidade maurícia, por intermédio dos talentosos pioneiros da sétima arte, foi transformada num centro cinematográfico que produziu treze longas-metragens.

Sua participação como radialista foi intensa: Rádios Clube (1956-1960), Olinda (1961-1962; 1964-1971) e Capibaribe (1963). Além dos comentários dos jogos de futebol, Jota Soares criou, na Rádio Olinda, os programas Quando fala o Campeão, O Cantinho da Saudade (baseado na vida dos famosos craques do futebol brasileiro) e A Voz da Razão

No início da década de 1960, escreveu durante 59 semanas, no Diário de Pernambuco, uma coluna domingueira intitulada Relembrando o Cinema Pernambucano e, posteriormente, outra coluna, Telas e Fatos, com curiosidades sobre os segredos do cinema de todo o mundo.

Jota Soares organizou, entre livros e periódicos, precioso acervo documental sobre cinema e futebol no Recife, no Brasil e no mundo que, atualmente, pode ser consultado na Fundação Joaquim Nabuco.

Morreu no Recife, em janeiro de 1988.

E O SENADOR ARNON DE MELLO MATOU O SENADOR JOSÉ KAIRALLA

on quinta-feira, 11 de agosto de 2022

 

A política em Alagoas sempre foi violenta, principalmente nas décadas de 50 e 60 do século passado. Com a redemocratização do Brasil em 1946, tivemos eleições gerais sendo eleito Governador de Alagoas e com o apoio do seu irmão Marechal Gois Monteiro, o Silvestre Péricles de Gois Monteiro. Foi um governador violento e exemplos não faltam:

1- Fez o jornalista Calheiros engolir em sua presença um artigo contra o seu governo.

2- Na campanha trocou tiros com um dos seus irmãos no famoso tiroteio de Mata Grande.

3- Como perdeu a eleição para o seu inimigo o Arnon de Mello em 1951, mandou pintar todo o Palácio dos Martírios de fezes.

4- Ameaçou o Arnon de Mello de matá-lo quando do seu primeiro discurso no senado.

 

“Senhor presidente, com a permissão de Vossa Excelência, falarei de frente para o senador Silvestre Péricles de Góes Monteiro, que me ameaçou de morte.” Com essas duras palavras, o também senador Arnon de Mello, de Alagoas, inaugurou os serviços no Senado no dia 4 de dezembro de 1963.

Os desentendimentos entre Arnon e Silvestre se arrastavam havia tempos, desde que tentaram medir quem era mais influente em Alagoas, estado de origem de ambos. O presidente da Casa, o paulista Auro de Moura Andrade, já dava evidências da preocupação que tinha com o clima de tensão que ali vinha se instalando. A fala de Arnon diretamente dirigida ao seu inimigo político foi o estopim para que se iniciasse um faroeste caboclo no Senado.

Silvestre não aceitou o desaforo e atacou verbalmente Arnon, que, por sua vez, sacou o revólver que carregava consigo – um Smith Wesson 38, ou três-oitão, na linguagem popular, de cano longo e cabo de madrepérola – e disparou várias vezes. Nenhum dos tiros atingiu Péricles, que também estava armado, mas que “jogou-se no chão e rastejou entre as fileiras de poltronas com seu revólver na mão”, como relata reportagem do Jornal do Brasil, antes de ser amparado e desarmado pelo colega paraibano João Agripino.

Dois projéteis, no entanto, acertaram José Kairala, senador do PSD do Acre, que, junto com Agripino, procurara conter os “excelentíssimos senhores” de armas em punho. Kairala tinha 39 anos e substituía momentaneamente José Guiomard, do mesmo partido. Eram suas horas derradeiras no exercício da função, pois devolveria o cargo no dia seguinte ao titular. Ele foi baleado na frente do filho pequeno, da esposa e da mãe, que haviam ido prestigiá-lo no último dia de tão nobre trabalho. O disparo acertou seu abdômen. Embora tenha sido socorrido rapidamente e levado ao Hospital Distrital de Brasília, ele faleceu no mesmo dia, pouco depois das oito horas da noite.

Nascido em setembro de 1911 no estado pelo qual foi eleito, Arnon de Mello tornou-se jornalista já quando morava em terras fluminenses, para onde mudou aos 19 anos. Pouco depois, se formou em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sua carreira política começou em 1945, com o fim do Estado Novo, quando entrou para a UDN, partido pelo qual foi eleito suplente de deputado federal e, em 1950, governador de Alagoas, cargo que ocupou ao longo de cinco anos. Depois, em 1962, um ano antes de cometer o assassinato, foi eleito senador pela mesma unidade federativa.

Na época, curioso também foi um dos editoriais do jornal O Globo a respeito da prisão de Arnon, então amigo e sócio de Roberto Marinho, proprietário do periódico. “A democracia, apesar de ser o melhor dos regimes políticos, dá margem, quando o eleitorado se deixa enganar ou não é bastante esclarecido, a que o povo de um só estado – como é o caso – coloque na mesma casa legislativa um primário violento, como o senhor Silvestre Péricles, e um intelectual, como o senhor Arnon de Mello, reunindo-os no mesmo triste episódio, embora sejam eles tão diferentes pelo temperamento, pela cultura e pela educação”, publicou o jornal, deixando claro o lado que apoiava, ao usar adjetivos como “primário violento” para Péricles e “intelectual” para Arnon, e fazendo questão de também separá-los pelo temperamento”, pela “cultura” e pela “educação”, ainda que fosse o incensado o responsável direto pelo crime.

Depois de deixar a prisão, Arnon foi nomeado novamente em 1970 para o mesmo cargo que ocupara antes. E, quando faleceu, em 1983, ainda representava o estado de Alagoas no Senado.

O resto é história...

Assassinaram o Beato Franciscano, o Frei Damião de Alagoas

on segunda-feira, 4 de julho de 2022

 

Antônio Fernandes Amorim esse era o nome de batismo da criança que nasceu em 15 de agosto de 1901 no povoado Mata Escura em Viçosa, Alagoas (há também registro que teria nascido no povoado Formigas em Paulo Jacinto). Era filho de Joaquim Barbosa Amorim (Joaquim Garapeiro) e Tertuliana Maria da Conceição, além de citar que ele teve sete irmãos e que um deles, Manoel Barbosa Amorim (Cacau), era curandeiro de animais, “sua mãe falecera durante uma viagem de peregrinação ao Juazeiro do Norte, tendo a criança ficado aos cuidados do próprio Padre Cicero, que o internou no Convento das Chagas em Canindé, Ceará.

Em 1927, com 26 anos de idade, foi transferido para Recife, onde permaneceu por poucos anos no Convento da Penha. Em Pernambuco conheceu a Ordem Terceira de São Francisco de Assis, passando a conviver com os capuchinhos italianos. Era uma organização de leigos que adotava a penitência, a fé e a caridade cristã. Esteve ainda no Convento de São Francisco, em Salvador, Bahia.

O que levou Antônio a se transformar no Beato Franciscano foi a missão que lhe atribuiu o padre Daniel em um sonho. Queria que ele construísse uma capela à Santa Terezinha e nela fossem depositados seus ossos. Inicialmente construiu uma capela em Batalha-AL, porém, foi expulso com os seguidores. O Beato comprou umas terras entre Quebrangulo e Paulo Jacinto e construiu a Vila São Francisco.

O Franciscano sabia da influência política que tinha entre os seus seguidores e utilizava esse poder para beneficiar a Vila São Francisco.

Nas eleições para a prefeitura de Palmeira dos Índios, em 1950, por exemplo, teve participação decisiva na vitória de Manoel Sampaio Luz (Juca Sampaio), sobre Humberto Mendes.

Após os primeiros anos de mandato, o prefeito não deu a atenção prometida ao povoado e o Beato, sentindo-se desprezado e traído pelo mandatário, se aproximou de Humberto Mendes por indicação do deputado Abrahão Moura.

Esse apoio garantiria a eleição para deputado estadual de Humberto Mendes nas eleições de 3 de outubro de 1954, diminuindo as chances do filho de Juca Sampaio, Geraldo Sampaio, que tentava ocupar a vaga de Remi Maia, chamado a concorrer à Câmara dos Deputados.

Como se percebe, o Beato era peça decisiva no xadrez político do agreste alagoano naqueles anos e a sua opção pelos Mendes provocou inquietação entre os políticos das famílias Sampaio e Maia.

No dia 30 de julho de 1954, uma sexta-feira, a Vila São Francisco vivia os preparativos para a tradicional festa de aniversário do Franciscano, prevista para acontecer entre os dias 12 e 15 de agosto.

No meio da tarde, dois homens vestindo grossos capotes caminhavam pela Vila fazendo perguntas sobre a vida e os costumes do Beato. Haviam chegado ao povoado na noite anterior e tinham pernoitado no mato para não chamarem a atenção.

Como não conheciam o Franciscano, pediram a um dos moradores para apontar quem era ele. Pensando se tratar de novos seguidores, o que era muito comum acontecer, foi indicado a eles um senhor baixo e magro de terno branco.

Passaram então a segui-lo e entraram logo após ele na capela de São Francisco, onde o Franciscano cumprimentou aos vários fiéis e saiu. Quando na rua, o Beato percebeu que uma lâmpada piscava em um poste defronte ao orfanato.

Passava um pouco das 8 horas da noite quando pediu para que Francisco Inácio da Silva providenciassem uma escada enquanto ia até a sua casa buscar outra lâmpada.

Estava sobre a escada rosqueando a nova luminária quando recebeu dois tiros de um dos pistoleiros e mais dois do outro. Mal conseguiu descer a escada e caiu para morrer em seguida.

Francisco Inácio tentou impedir os tiros se jogando contra os autores dos disparos, mas também foi atingido mortalmente. Para garantir que o crime tinha sido realizado como contratado, um dos assassínios aproximou-se do corpo caído do Beato e deferiu-lhe mais dois tiros à queima-roupa.

Na fuga, foram perseguidos a pé por Azarias Gracindo da Rocha e Francisco Luiz da Silva, este último também foi atingido por um dos tiros disparados. Foi socorrido e transportado para Maceió. Há a informação, não comprovada, que faleceu posteriormente.

Azarias Gracindo ainda continuou na perseguição e somente não morreu porque os assassinos não tinham mais balas. Mas só desistiu ao receber uma coronhada de revólver na cabeça.

enterro do Franciscano ocorreu na tarde do domingo, 1º de agosto, e seu caixão foi levado por uma multidão de fiéis.

Humberto Mendes, candidato a deputado, acompanhava as investigações indicando quem eram os possíveis mandantes e pressionando a Polícia a agir rapidamente.

Com o inquérito em andamentos e percebendo que a garantia de proteção dadas pelos contratantes poderia falhar, os criminosos trataram de fugir.

Um deles, Luís Rodrigues, mais conhecido como Luís Lambiqueiro, recebeu dois mil cruzeiros em Palmeira dos Índios e foi orientado a procurar abrigo em uma fazenda de União dos Palmares. De lá tomou destino ignorado e ninguém mais teve notícias dele.

José Guilherme da Silva, o Cacutá, também chegou em Palmeira dos Índios na tarde da terça-feira, 3 de agosto. Teve contato com um dos mandantes, recebeu seus dois mil cruzeiros e depois foi levado até Bom Conselho em Pernambuco.

Com a prisão de Cacutá e o confissão de várias testemunhas, a Polícia alagoana divulgou o nome de todos os envolvidos.

O jornal Correio da Manhã de 8 de setembro de 1954 noticiou a relação dos supostos responsáveis pelo crime: Remi Maia, deputado estadual e médico muito conceituado; Manoel Sampaio Luz (Juca Sampaio), prefeito de Palmeira dos Índios; Rubem Amorim, bacharel; Frederico Maia, patriarca da família Maia; Ari Maia, irmão de Remi; José Gomes e Luiz Correia. Além dos autores materiais: José Guilherme da Silva, Cacutá, e Luís Rodrigues, o Luís Lambiqueiro. Foram todos presos para julgamento.

 O júri foi marcado para o dia 20 de junho de 1955, no Clube Monte Castelo, em Quebrangulo. Os indiciados como mandantes conseguiram separar os seus julgamentos do de Cacutá, que surpreendentemente desistiu do júri popular.

O juiz Olavo Cahet presidiu o júri, que teve na acusação o promotor público de Anadia, Néo Fonseca, substituindo o titular da comarca. Seus auxiliares foram Sebastião Teixeira e João Sebastião Teixeira.

Na defesa atuaram Nelson TenórioJosé Loiola CorreiaJosé Cavalcante Manso e José Laurindo, o Juca Laurindo.

José Magalhães, José Cincinato Tenório, José Soares Sobrinho, Joaquim Florentino Tenório, José Zenou Costa, Severino de Andrade Bitu e Ataíde Teixeira da Silva constituíram o Conselho da Sentença.

Jerônimo da Cunha Lima foi o escrivão e o júri se estendeu até as três horas da madrugada.

defesa, em sua sustentação, alegou que as confissões que apontavam os quatro réus como mandantes do crime foram conseguidas através de tortura. O júri concordou e todos foram absolvidos por sete a zero.

O promotor, entretanto, apresentou apelação em relação a sentença de Ari Maia, que não chegou a participar do outro júri. Adoeceu na prisão, de onde foi retirado pelo irmão deputado para tratamento em Maceió. Não resistiu e faleceu no dia 10 de novembro de 1956 na Casa de Saúde Lessa Azevedo, depois renomeada para Paulo Netto.

No primeiro julgamento, Cacutá foi condenado a 36 anos de reclusão. Após recurso e um segundo julgamento, pegou 29 anos e 6 meses: 16 anos pela morte do Franciscano e treze anos e seis meses pela morte de Francisco Inácio da Silva. Cumpriu treze anos e meio de cadeia e saiu em livramento condicional.

O PADRE QUE MATOU O BISPO FOI ASSASSINADO

on quinta-feira, 9 de junho de 2022

 

Na década de 50 do século passado, uma tia e duas primas eram internas no Colégio Santa Sofia de Garanhuns e a família tinha um bom relacionamento com Dom Expedito, Bispo desta cidade e que era o orientador espiritual do referido colégio.

            Francisco Expedito Lopes nasceu em 1914, no Sítio Jerusalém, em Sobral, no Ceará. Filho de pais muito pobres, foi ordenado padre em Roma, em 1938. Consagrado bispo, foi para a diocese de Oeiras, no Piauí. Em 1955, foi nomeado pelo Vaticano para a Diocese de Garanhuns, com a principal finalidade de resolver problemas em relação a quatro padres, envolvidos em política e com mulheres. Ele conseguiu enquadrar três deles. Menos um.
            Padre Hosana de Siqueira e Silva era pároco de Quipapá, município subordinado à Diocese de Garanhuns. Era acusado de cobrar preços exorbitantes para ministrar sacramentos, não cuidar devidamente da paróquia e não fornecer atendimento às escolas, como era costume na época. Mas a acusação mais grave dava conta de um suposto envolvimento amoroso com a prima, Maria José Martins, que trabalhava como empregada doméstica na casa paroquial. Boatos diziam que ela tinha sido obrigada a fazer dois abortos e que só podia se confessar com ele.
            Mesmo o padre negando o envolvimento, ela foi desalojada. Mas a cama do padre Hosana não ficou vazia. Foi ocupada por Quitéria Marques, mais jovem, mais bonita, menos grávida. Dom Expedito chamou o padre namorador e pediu para ele despedir Quitéria, mas ele não obedece, alegando que tudo não passava de fofoca das beatas e que havia um complô contra ele arquitetado pelo padre Acácio Rodrigues Alves.
            Diante das desobediências, o bispo pediu orientações à Santa Sé sobre como proceder. Recebeu autorização para que ele fosse suspenso de ordens. Ao saber que a decisão seria lida numa rádio da Diocese, padre Hosana tenta convencer padre Acácio, que organizava o programa, a deixá-lo se defender, o que não foi permitido.
            Ao saber da recusa, o padre Hosana pegou um trem, depois um táxi e foi para a casa do bispo. Eram 18h do dia 1º de julho de 1957, quando ele bateu na porta. Ao abrir, Dom Expedito levou três tiros. Um no braço, dois no tórax. Depois de oito horas de agonia, ele morre. Ao chegar para dar a extrema-unção, monsenhor José de Anchieta Callou ouviu a última frase de Dom Expedito: “Padre Hosana me matou; perdoe esse pobre sacerdote”, um gesto cristão de misericórdia que deve ter garantido seu lugar no céu.
            Com medo, padre Hosana foi se refugiar no Mosteiro de São Bento, onde confessou o assassinato ao prior Dom Bento Martins. No dia seguinte à polícia, que o envia disfarçado para a Casa de Detenção do Recife, para evitar um linchamento pela revolta da população. O caso teve repercussão nacional.
            Padre Hosana passou por três julgamentos. Nos dois primeiros, defendido pelos irmãos Brito Alves, foi inocentado tendo como tese a legítima defesa da honra. Já no terceiro, foi condenado a 19 anos de prisão, dos quais cumpriu 11 anos com bom comportamento. Na prisão, vestia bata e celebrava “missas”. Ao ser solto, chegou a visitar o túmulo de Dom Expedito. Em 1968, padre Hosana foi morar no sítio da família próximo ao município de Correntes, onde nasceu. Construiu uma pequena capela, continuou a rezar missas, quase sem fiéis, e ministrar sacramentos, apesar de ter sido excomungado durante a prisão. Em 1997, aos 84 anos, foi brutalmente assassinado, atingido por golpes de madeira na cabeça, crime nunca desvendado.
            Está parado, no Vaticano, o processo de canonização de Dom Expedito. Que tem anexado dois milagres comprovados: a de um dentista que acudiu o religioso baleado e teve as calças molhadas pelo sangue. As vestes foram guardadas e depois usadas como relíquia no difícil parto da esposa que corria risco de morte e se salvou. Outros milagres foram atribuídos, o mais famoso o de uma criança alagoana que atribuiu a cura de uma deficiência no pé à interseção do bispo.

ALAGOAS, 1957, TIROTEIO NA ASSEMBLEIA. MORREU O DEPUTADO HUMBERTO MENDES

on sexta-feira, 20 de maio de 2022

 

Aquele 13 de setembro de 1957, uma sexta-feira, Maceió amanheceu diferente, céu nublado, comércio semifechado, poucos ônibus e uma tensão emocional muito grande, inclusive minha mãe Lourdes não permitiu que eu fosse para o Educandário Nossa Senhora da Conceição que ficava na Praça das Graças. Por que tudo isso? Devido naquela tarde ser votado o impeachment do governador Muniz Falcão, o qual derrotou na eleição de 1955 o Afrânio Lages, candidato do então governador Arnon de Melo. Sebastião Marinho Muniz Falcão era um pernambucano nascido em Ouricuri. O Muniz Falcão fez o ginásio no Crato-CE, estudou humanidades, foi sargento do Exército, escreveu novela para a Rádio Tupy e por concurso foi para o Ministério do Trabalho onde Alagoas o conheceu. Muniz Falcão foi o primeiro governador eleito a derrotar a elite alagoana. Alegando que o governador estava criando um novo imposto, o Deputado Estadual Oséas Cardoso iniciou o processo de impeachment, tendo como relator o Teotônio Vilela. Muniz Falcão era genro do Deputado Humberto Mendes, que era o líder do seu governo.

Palmeira dos Índios tinha dois deputados: Humberto Mendes (situação) e Geraldo Sampaio (Oposição).

Eis na íntegra o relato do jornalista Márcio Moreira Alves sobre esse tiroteio. Este jornalista que como Deputado Federal e devido seu discurso contra a ditadura em 1968 foi cassado e deu início ao AI-5:

 

“Cheguei às 6 da manhã de hoje, acompanhando o presidente da UDN. Imediatamente saímos a tomar contato com o ambiente político de Maceió, onde se vivia momentos de expectativa.

 

Reuniões se sucederam entre os líderes udenistas na casa do deputado Mário Guimarães, presidente da UDN local. O Palácio do Governo estava vazio de povo e cheio de homens armados.

 

O governador movimentou a cidade durante toda a manhã. A partir do meio dia passou a receber em Palácio. Às 15 horas a Polícia Estadual formou em frente ao edifício da Assembleia.

 

Os deputados da oposição se encontravam no recinto. Às 15,10 horas, deputados situacionistas liderados pelo deputado Claudionor Lima, subiram a escadaria vestidos de capas, sob as quais portavam metralhadoras. Penetraram imediatamente no recinto.

 

Júlio França foi um dos deputados atingidos durante o tiroteio

Júlio França foi um dos deputados atingidos durante o tiroteio

 

Nenhuma palavra chegou a ser trocada. Os deputados da situação abriram fogo imediatamente a esmo. Vários feridos. Impossível dizer número, pois figuro entre eles. De relance vi um deputado de terno escuro, de óculos, empunhando metralhadora sob a capa, que me afirmaram ser Claudenor Lima.

 

Vi o fogo da metralhadora, senti dor na perna e caí. Durante uma hora, juntamente com outros 4 feridos, abriguei-me atrás de 3 sacos de areia destinados a proteger a taquigrafia. Esperei socorro. As ambulâncias tiveram dificuldades em atravessar o cerca de cangaceiros, que ameaçavam o corpo médico com metralhadoras. Removido para o Pronto Socorro, foi diagnosticada fratura do fêmur. Meu estado geral bom. Reportagem encerrada. Marcio Alves”.

 

Além do Márcio Moreira Alves, foram feridos os deputados Carlos Gomes de Barros, Júlio França, José Afonso e o servidor Jorge Pinto Dâmaso, irmão do Pe. Alfredo Pinto Dâmaso. Com um tiro nas costas, foi assassinado pelo deputado Virgílio Barbosa o deputado palmeirense Humberto Mendes.

O presidente Juscelino decretou intervenção parcial em Alagoas. Muniz voltou ao governo em 27/01/1958 terminando o seu mandato, sendo reeleito em 1965, porém manobras da elite alagoana não permitiu sua posse e Alagoas sofreu nova intervenção desta vez pelo Regime Militar.

Muniz Falcão faleceu aos 51 anos no dia 14/06/1966 no Hospital português em Recife.




JOAQUIM NABUCO UM GRANDE PERNAMBUCANO

on sexta-feira, 22 de abril de 2022

 

Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo nasceu a 19 de agosto de 1849, em Recife. (Em 1970 esta casa na rua da Imperatriz foi uma pensão na qual tive o privilégio de residir). Após seu pai ir morar no Rio de Janeiro, o Joaquim Nabuco, então com 7 anos, passou a viver com sua madrinha no Engenho Massangana no Cabo de Santo Agostinho. De uma feita um escravo fugitivo ajoelhou-se aos pés do pequeno Nabuco solicitando proteção. Ele exigiu que sua madrinha o comprasse e em seguida o libertasse. Ali começou a nascer o seu espírito abolicionista.

Ele morreu em 17 de janeiro de 1910, em Washington, Estados Unidos. Advogado, foi deputado do Império. Destacou-se na defesa da abolição da escravatura. Proclamada a República, deixou a política. Dedicou-se a escrever representar o Brasil em missões diplomáticas.

Joaquim Nabuco desenvolveu uma análise do Brasil a partir do fenômeno da escravidão. A enorme resistência dos proprietários de Terra e da elite política em acabar com escravismos no país (o Brasil foi um dos últimos países do mundo a abolir essa forma de trabalho), convenceu Nabuco de que a situação dos negros estava no centro da estrutura social do país.

A principal obra de Joaquim Nabuco é um livro curto e elegante, O Abolicionismo, publicado em 1883, no qual ele desenvolve uma análise da influência da escravidão na sociedade brasileira. O texto não se limita a propor o fim do trabalho forçado. Ele mostra como a vida política do Brasil, pretensamente liberal, estava influenciada pelo escravismo.

As consequências da escravidão, como o desprezo pelo trabalho e a de formação da elite liberal brasileira, ambas assinaladas por Nabuco, foram ideias que influenciaram parte do pensamento político nacional no século XX. A obra de Nabuco chamou atenção para inexistência de um verdadeiro liberalismo no Brasil e para a necessidade de se resolver o problema da profunda divisão social originária da escravidão.

Analise o resumo do seu pensamento abolicionista:

“Diz-se que entre nós a escravidão é suave, e os senhores são bons. A verdade, porém, é que toda escravidão é a mesma, e quanto à bondade dos senhores esta não passa de resignação dos escravos. Quem se desse ao trabalho de fazer uma estatística dos crimes, ou de escravos ou contra escravos, quem pudesse abrir um inquérito sobre a escravidão e ouvir as queixas dos que a sofrem, veria que ela no Brasil ainda é hoje tão dura, bárbara e cruel como foi em qualquer outro país da América.”