JOTA SOARES, O COMENTARISTA E PRECURSOR DO CINEMA PERNAMBUCANO

on quarta-feira, 31 de agosto de 2022

 

A partir do início da década de setenta do século XX e pelo trabalho exercido nas empresas que trabalhei, passei a ter contato com quase toda a imprensa pernambucana, principalmente a esportiva. Conheci o alagoano Ademar Paiva (Pernambuco, você é meu), o Valter Lins (colega de faculdade), Ivan Lima, José Santana, Júlio José, Adonias de Moura, Jaime Ubiratan, Gomes Neto, Duda Amaral, Walter Spencer (o gavião anuncia), dentre outros.

Agora o professor de todos eles, foi o sergipano de espírito pernambucano, uma das memórias mais geniais da nossa história, o José Soares Silva Filho, o Jota Soares. Eu o conheci na Rádio Olinda em 1971, ele então no auge dos seus 65 anos. Quando terminava o jogo, o espetáculo continuava com os comentários do Jota Soares. Todos da arquibancada se viravam para a cabine da Rádio Olinda e o comentário do Jota minuto a minuto. No início dos anos sessenta a TV Jornal transmitia com a narração do Jota Soares a TV Ringue Torre (luta livre) com o paraibano Ivan Gomes ganhando tudo. Falava o Jota: “enquanto a lua brilhar no céu, o sangue jorra no tablado.”



Considerado um dos precursores do cinema pernambucano, José Soares Silva Filho, conhecido artisticamente como Jota Soares, nasceu em Propriá, Sergipe, no dia 16 de junho de 1906, filho de José Soares Silva e de Maria Alves Argôlo Soares.

O entusiasmo pelo cinema foi despertado, provavelmente, na sua primeira infância quando conheceu por intermédio de pessoa amiga da família um pequeno projetor, onde seu dono passava fitas francesas de Charles Pathé (pioneiro da indústria da película e da gravação) e Georges Méliès (um dos precursores do cinema, que usava inventivos efeitos fotográficos para criar mundos fantásticos).

Por volta de 1919, além do interesse pelo cinema, Jota voltou sua atenção para os craques do futebol brasileiro. Reuniu inúmeros periódicos e livros sobre esse esporte e formou um acervo de valiosas publicações que, até hoje, é consultado por estudiosos da área.

Ainda em 1924, lançou, no Recife, o futebol de botões (ou de mesa), posteriormente chamado Futebol Celotex. Várias ligas foram formadas por Jota Soares, no Recife, espalhando-se por muitos bairros, tornando-se uma verdadeira “febre”.

O destaque para a carreira cinematográfica de Jota foi o filme A Filha do Advogado, gravado, em 1927, pela Aurora-Film, onde atuou como diretor e personagem principal. O melodrama chegou a ser exibido comercialmente em 31 salas do Rio de Janeiro. Realizou quinze filmes que foram bem recebidos pelo público e pela crítica. Entre eles, Jurando Vingar e Aitaré da Praia.

Na história do cinema pernambucano, o período entre 1923 e 1931 é conhecido como Ciclo do Recife. Nesses anos, a cidade maurícia, por intermédio dos talentosos pioneiros da sétima arte, foi transformada num centro cinematográfico que produziu treze longas-metragens.

Sua participação como radialista foi intensa: Rádios Clube (1956-1960), Olinda (1961-1962; 1964-1971) e Capibaribe (1963). Além dos comentários dos jogos de futebol, Jota Soares criou, na Rádio Olinda, os programas Quando fala o Campeão, O Cantinho da Saudade (baseado na vida dos famosos craques do futebol brasileiro) e A Voz da Razão

No início da década de 1960, escreveu durante 59 semanas, no Diário de Pernambuco, uma coluna domingueira intitulada Relembrando o Cinema Pernambucano e, posteriormente, outra coluna, Telas e Fatos, com curiosidades sobre os segredos do cinema de todo o mundo.

Jota Soares organizou, entre livros e periódicos, precioso acervo documental sobre cinema e futebol no Recife, no Brasil e no mundo que, atualmente, pode ser consultado na Fundação Joaquim Nabuco.

Morreu no Recife, em janeiro de 1988.

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