A partir do
início da década de setenta do século XX e pelo trabalho exercido nas empresas
que trabalhei, passei a ter contato com quase toda a imprensa pernambucana,
principalmente a esportiva. Conheci o alagoano Ademar Paiva (Pernambuco, você é
meu), o Valter Lins (colega de faculdade), Ivan Lima, José Santana, Júlio José,
Adonias de Moura, Jaime Ubiratan, Gomes Neto, Duda Amaral, Walter Spencer (o
gavião anuncia), dentre outros.
Agora o professor de todos eles,
foi o sergipano de espírito pernambucano, uma das memórias mais geniais da
nossa história, o José Soares Silva Filho, o Jota Soares. Eu o
conheci na Rádio Olinda em 1971, ele então no auge dos seus 65 anos. Quando
terminava o jogo, o espetáculo continuava com os comentários do Jota Soares. Todos
da arquibancada se viravam para a cabine da Rádio Olinda e o comentário do Jota
minuto a minuto. No início dos anos sessenta a TV Jornal transmitia com a narração
do Jota Soares a TV Ringue Torre (luta livre) com o paraibano Ivan Gomes
ganhando tudo. Falava o Jota: “enquanto a lua brilhar no céu, o sangue jorra
no tablado.”
Considerado um dos
precursores do cinema pernambucano, José Soares Silva Filho, conhecido
artisticamente como Jota Soares, nasceu em Propriá, Sergipe, no dia 16 de junho
de 1906, filho de José Soares Silva e de Maria Alves Argôlo Soares.
O entusiasmo
pelo cinema foi despertado, provavelmente, na sua primeira infância quando
conheceu por intermédio de pessoa amiga da família um pequeno projetor, onde
seu dono passava fitas francesas de Charles Pathé (pioneiro da indústria da
película e da gravação) e Georges Méliès (um dos precursores do cinema, que
usava inventivos efeitos fotográficos para criar mundos fantásticos).
Por volta de
1919, além do interesse pelo cinema, Jota voltou sua atenção para os craques do
futebol brasileiro. Reuniu inúmeros periódicos e livros sobre esse esporte e
formou um acervo de valiosas publicações que, até hoje, é consultado por
estudiosos da área.
Ainda em 1924,
lançou, no Recife, o futebol de botões (ou de mesa), posteriormente chamado
Futebol Celotex. Várias ligas foram formadas por Jota Soares, no Recife,
espalhando-se por muitos bairros, tornando-se uma verdadeira “febre”.
O destaque
para a carreira cinematográfica de Jota foi o filme A Filha do Advogado,
gravado, em 1927, pela Aurora-Film, onde atuou como diretor e personagem
principal. O melodrama chegou a ser exibido comercialmente em 31 salas do Rio
de Janeiro. Realizou quinze filmes que foram bem recebidos pelo público e pela
crítica. Entre eles, Jurando Vingar e Aitaré da Praia.
Na história do
cinema pernambucano, o período entre 1923 e 1931 é conhecido como Ciclo do
Recife. Nesses anos, a cidade maurícia, por intermédio dos talentosos pioneiros
da sétima arte, foi transformada num centro cinematográfico que produziu treze
longas-metragens.
Sua
participação como radialista foi intensa: Rádios Clube (1956-1960), Olinda
(1961-1962; 1964-1971) e Capibaribe (1963). Além dos comentários dos jogos de
futebol, Jota Soares criou, na Rádio Olinda, os programas Quando fala o
Campeão, O Cantinho da Saudade (baseado na vida dos famosos craques do futebol
brasileiro) e A Voz da Razão
No início da
década de 1960, escreveu durante 59 semanas, no Diário de Pernambuco, uma
coluna domingueira intitulada Relembrando o Cinema Pernambucano e,
posteriormente, outra coluna, Telas e Fatos, com curiosidades sobre os segredos
do cinema de todo o mundo.
Jota Soares
organizou, entre livros e periódicos, precioso acervo documental sobre cinema e
futebol no Recife, no Brasil e no mundo que, atualmente, pode ser consultado na
Fundação Joaquim Nabuco.
Morreu no Recife, em janeiro de
1988.
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