Aquele 13 de setembro de 1957, uma sexta-feira,
Maceió amanheceu diferente, céu nublado, comércio semifechado, poucos ônibus e
uma tensão emocional muito grande, inclusive minha mãe Lourdes não permitiu que
eu fosse para o Educandário Nossa Senhora da Conceição que ficava na Praça das
Graças. Por que tudo isso? Devido naquela tarde ser votado o impeachment do
governador Muniz Falcão, o qual derrotou na eleição de 1955 o Afrânio Lages,
candidato do então governador Arnon de Melo. Sebastião Marinho Muniz Falcão era
um pernambucano nascido em Ouricuri. O Muniz Falcão fez o ginásio no Crato-CE,
estudou humanidades, foi sargento do Exército, escreveu novela para a Rádio Tupy
e por concurso foi para o Ministério do Trabalho onde Alagoas o conheceu. Muniz
Falcão foi o primeiro governador eleito a derrotar a elite alagoana. Alegando
que o governador estava criando um novo imposto, o Deputado Estadual Oséas
Cardoso iniciou o processo de impeachment, tendo como relator o Teotônio Vilela.
Muniz Falcão era genro do Deputado Humberto Mendes, que era o líder do seu
governo.
Palmeira dos Índios tinha dois deputados: Humberto
Mendes (situação) e Geraldo Sampaio (Oposição).
Eis na íntegra o relato do jornalista Márcio Moreira
Alves sobre esse tiroteio. Este jornalista que como Deputado Federal e devido
seu discurso contra a ditadura em 1968 foi cassado e deu início ao AI-5:
“Cheguei às 6 da manhã de
hoje, acompanhando o presidente da UDN. Imediatamente saímos a tomar contato
com o ambiente político de Maceió, onde se vivia momentos de expectativa.
Reuniões se sucederam entre
os líderes udenistas na casa do deputado Mário Guimarães, presidente da UDN
local. O Palácio do Governo estava vazio de povo e cheio de homens armados.
O governador movimentou a
cidade durante toda a manhã. A partir do meio dia passou a receber em Palácio.
Às 15 horas a Polícia Estadual formou em frente ao edifício da Assembleia.
Os deputados da oposição se
encontravam no recinto. Às 15,10 horas, deputados situacionistas liderados pelo
deputado Claudionor Lima, subiram a escadaria vestidos de capas, sob as quais
portavam metralhadoras. Penetraram imediatamente no recinto.
Júlio França foi um dos
deputados atingidos durante o tiroteio
Júlio França foi um dos
deputados atingidos durante o tiroteio
Nenhuma palavra chegou a
ser trocada. Os deputados da situação abriram fogo imediatamente a esmo. Vários
feridos. Impossível dizer número, pois figuro entre eles. De relance vi um
deputado de terno escuro, de óculos, empunhando metralhadora sob a capa, que me
afirmaram ser Claudenor Lima.
Vi o fogo da metralhadora,
senti dor na perna e caí. Durante uma hora, juntamente com outros 4 feridos,
abriguei-me atrás de 3 sacos de areia destinados a proteger a taquigrafia.
Esperei socorro. As ambulâncias tiveram dificuldades em atravessar o cerca de
cangaceiros, que ameaçavam o corpo médico com metralhadoras. Removido para o
Pronto Socorro, foi diagnosticada fratura do fêmur. Meu estado geral bom.
Reportagem encerrada. Marcio Alves”.
Além do Márcio Moreira Alves, foram feridos os
deputados Carlos Gomes de Barros, Júlio França, José Afonso e o servidor Jorge
Pinto Dâmaso, irmão do Pe. Alfredo Pinto Dâmaso. Com um tiro nas costas, foi
assassinado pelo deputado Virgílio Barbosa o deputado palmeirense Humberto
Mendes.
O presidente Juscelino decretou intervenção parcial
em Alagoas. Muniz voltou ao governo em 27/01/1958 terminando o seu mandato, sendo
reeleito em 1965, porém manobras da elite alagoana não permitiu sua posse e
Alagoas sofreu nova intervenção desta vez pelo Regime Militar.
Muniz Falcão faleceu aos 51 anos no dia 14/06/1966 no Hospital português em Recife.
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