A
política em Alagoas sempre foi violenta, principalmente nas décadas de 50 e 60
do século passado. Com a redemocratização do Brasil em 1946, tivemos eleições
gerais sendo eleito Governador de Alagoas e com o apoio do seu irmão Marechal Gois
Monteiro, o Silvestre Péricles de Gois Monteiro. Foi um governador violento e
exemplos não faltam:
1- Fez
o jornalista Calheiros engolir em sua presença um artigo contra o seu governo.
2- Na
campanha trocou tiros com um dos seus irmãos no famoso tiroteio de Mata Grande.
3- Como
perdeu a eleição para o seu inimigo o Arnon de Mello em 1951, mandou pintar
todo o Palácio dos Martírios de fezes.
4- Ameaçou
o Arnon de Mello de matá-lo quando do seu primeiro discurso no senado.
“Senhor
presidente, com a permissão de Vossa Excelência, falarei de frente para o
senador Silvestre Péricles de Góes Monteiro, que me ameaçou de morte.” Com
essas duras palavras, o também senador Arnon de Mello, de Alagoas, inaugurou os
serviços no Senado no dia 4 de dezembro de 1963.
Os desentendimentos entre Arnon e Silvestre se
arrastavam havia tempos, desde que tentaram medir quem era mais influente em Alagoas,
estado de origem de ambos. O presidente da Casa, o paulista Auro de Moura
Andrade, já dava evidências da preocupação que tinha com o clima de tensão que
ali vinha se instalando. A fala de Arnon diretamente dirigida ao seu inimigo
político foi o estopim para que se iniciasse um faroeste caboclo no Senado.
Silvestre
não aceitou o desaforo e atacou verbalmente Arnon, que, por sua vez, sacou o
revólver que carregava consigo – um Smith Wesson 38, ou três-oitão, na
linguagem popular, de cano longo e cabo de madrepérola – e disparou várias
vezes. Nenhum dos tiros atingiu Péricles, que também estava armado, mas que
“jogou-se no chão e rastejou entre as fileiras de poltronas com seu revólver na
mão”, como relata reportagem do Jornal do Brasil, antes de ser amparado e
desarmado pelo colega paraibano João Agripino.
Dois
projéteis, no entanto, acertaram José Kairala, senador do PSD do
Acre, que, junto com Agripino, procurara conter os “excelentíssimos senhores”
de armas em punho. Kairala tinha 39 anos e substituía momentaneamente José
Guiomard, do mesmo partido. Eram suas horas derradeiras no exercício da função,
pois devolveria o cargo no dia seguinte ao titular. Ele foi baleado na frente
do filho pequeno, da esposa e da mãe, que haviam ido prestigiá-lo no último dia
de tão nobre trabalho. O disparo acertou seu abdômen. Embora tenha sido
socorrido rapidamente e levado ao Hospital Distrital de Brasília, ele faleceu
no mesmo dia, pouco depois das oito horas da noite.
Nascido em setembro de
1911 no estado pelo qual foi eleito, Arnon de Mello tornou-se jornalista já
quando morava em terras fluminenses, para onde mudou aos 19 anos. Pouco depois,
se formou em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sua
carreira política começou em 1945, com o fim do Estado Novo, quando entrou para
a UDN, partido pelo qual foi eleito suplente de deputado federal e, em 1950,
governador de Alagoas, cargo que ocupou ao longo de cinco anos. Depois, em
1962, um ano antes de cometer o assassinato, foi eleito senador pela mesma
unidade federativa.
Na
época, curioso também foi um dos editoriais do jornal O Globo a respeito da
prisão de Arnon, então amigo e sócio de Roberto Marinho, proprietário do
periódico. “A democracia, apesar de ser o melhor dos regimes políticos, dá
margem, quando o eleitorado se deixa enganar ou não é bastante esclarecido, a
que o povo de um só estado – como é o caso – coloque na mesma casa legislativa
um primário violento, como o senhor Silvestre Péricles, e um intelectual, como
o senhor Arnon de Mello, reunindo-os no mesmo triste episódio, embora sejam
eles tão diferentes pelo temperamento, pela cultura e pela educação”, publicou
o jornal, deixando claro o lado que apoiava, ao usar adjetivos como “primário
violento” para Péricles e “intelectual” para Arnon, e fazendo questão de também
separá-los pelo temperamento”, pela “cultura” e pela “educação”, ainda que
fosse o incensado o responsável direto pelo crime.
Depois
de deixar a prisão, Arnon foi nomeado novamente em 1970 para o mesmo cargo que
ocupara antes. E, quando faleceu, em 1983, ainda representava o estado de
Alagoas no Senado.
O resto
é história...
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