EPIDEMIAS NO BRASIL E A SECA DE 1878

on sábado, 11 de julho de 2020

José Roberto Pereira



No Império Romano a varíola matou quase a metade dos cidadãos residentes em Roma. Na Idade Média a peste assolou toda a Europa, dizimando milhares de pessoas. As civilizações Asteca e Inca pereceram devido o invasor espanhol trazer na bagagem e roupas o vírus da varíola e sarampo.

Aqui no Brasil desde o final do século XIX que fomos acometidos na sequência pela:  cólera morbus, a varíola (1904), a gripe espanhola (1918), outras epidemias e agora a mais letal através do covid-19.

De origem asiática, mais precisamente na Índia, a cólera se espalhou para o mundo a partir de 1817. Chegou no Brasil em 1885, invadindo os estados do Amazonas, Pará, Bahia e Rio de Janeiro. A bactéria que a provoca foi descoberta pelo cientista Robert Koch em 1884 e recebeu o nome de Víbrio Cholerae e infectava o intestino humano. A cólera é transmitida pela água e alimentos contaminados. A vacina existente só imunizou 50% da população. A cólera tornou a vir para o Brasil em 1991 vinda do Peru fazendo sua primeira vítima em Tabatinga-AM.




A varíola é uma doença causada por vírus, sendo a pele a parte do corpo mais atingida, e devido vacinação, foi erradicada no Brasil em 1972. A transmissão ocorre pelas secreções da pessoa doente e por gotículas de secreção espalhadas pelo ar. A vacina foi descoberta por Edward Jenner em 1796. No inverno de 1904 uma violenta epidemia invadiu o Rio de Janeiro e só naquele ano morreram cerca de 3.500 pessoas. Das atividades de combate à doença que o Diretor de Saúde Pública Dr. Oswaldo Cruz comandou, a mais difícil e polêmica, foi a campanha de vacinação. Devido à situação, Oswaldo Cruz solicitou ao Governo Federal que enviasse ao Congresso um projeto de lei ratificando a obrigatoriedade da vacinação em todo o país. Chamado pelo povo de “código de torturas”, o projeto provocou a ira da oposição ao Presidente Rodrigues Alves e até o Gênio, o Águia de Haia, o Senador Rui Barbosa votou contra e foi criada a Liga contra a vacina obrigatória. Apesar de tudo, a Lei Nº 1.261 foi aprovada em 31 de outubro de 1904. Era o estopim que faltava, sendo que no dia 10 de novembro de 1904 tinha início a Revolta da Vacina. Durante uma semana, milhares de pessoas saíram às ruas do Rio de Janeiro protestando. O comércio fechou as portas, o transporte público entrou em colapso, uma parte do exército tentou depor o Presidente Rodrigues Alves, o desfile de 15 de novembro foi cancelado. O levante popular foi sufocado com violência, deixando um saldo de 30 mortos, 110 feridos e 945 prisioneiros. A metade dos detidos foi para o Acre, afim de trabalha na borracha e morrendo mais da metade na região.

Presidente Rodrigues Alves

Há 102 anos a gripe espanhola paralisou o Brasil. Segundo historiadores, esta gripe matou mais de 50 milhões em todo o mundo. Fala-se que esta gripe chegou ao Brasil em setembro de 1918 no navio de bandeira espanhola o Demerara. Ele atracou nos portos de Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Não havia medicamentos para a gripe, sendo a prevenção (como lavar as mãos e evitar aglomerações) as medidas adotadas. No Brasil morreram em torno de 35 mil pessoas, inclusive o Presidente eleito Rodrigues Alves, que foi substituído pelo vice, o nordestino Epitácio Pessoa. Esta gripe foi levada para Europa por soldados americanos durante a 1ª Guerra Mundial e segundo cientistas por carne de porco contaminada.

De todas as epidemias que passaram pelo Brasil, a mais contundente foi a morte pela fome na seca de 1878, principalmente no Estado do Ceará. Fortaleza, então capital da Província, tinha uma população em torno de 35 mil pessoas. Durante o ano de 1878 mais de 100 mil retirantes invadiram Fortaleza, morrendo diariamente de fome em torno de 1.000 pessoas.

Segundo historiadores, só em Fortaleza morreram de fome algo em torno de 70 mil pessoas. Dom Pedro II enviou navios carregados de charque, farinha, feijão e rapadura. Estes mantimentos foram vendidos pelo Presidente da Província para os coronéis do sertão numa verdadeira falta de decência por parte dos governantes.

O aproveitamento das epidemias para ganhar dinheiro por alguns governantes vem de longe. Nesta época foi construído em Quixadá-CE, o açude do Cedro.

Lembrando que estas mortes foram apenas no Ceará. Imagine no restante do nordeste!


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