TENÓRIO CAVALCANTI, O HOMEM DA CAPA PRETA

on sexta-feira, 8 de abril de 2022

 

Estamos no carnaval de 1967 e já trabalhando na Rádio Sampaio recebi uma solicitação do amigo Gileno, então Diretor-Presidente da emissora.

Falou o Gileno: “Zé quem está em Palmeira é o Tenório Cavalcanti, sendo importante uma entrevista, e avise o Tenório que hoje iremos invadir sua fazenda com os “Cangaceiros”. O Bloco dos Cangaceiros era famoso no carnaval de Palmeira, sendo Gileno o seu “Capitão”. Fui até a fazenda do Tenório que ficava localizada aos pés da Serra do Candará. Tenório Cavalcanti era uma lenda viva e a entrevista versou sobre sua cassação pelo Regime Militar. Tenório Cavalcanti de Albuquerque tinha a idade da minha avó paterna Caridade e foram contemporâneos em Quebrangulo-AL, onde ele nasceu em 27 de setembro de 1906, falecendo em Caxias-RJ no dia 5 de maio de 1987.


Tenório Cavalcanti de Albuquerque

Tenório foi um dos mais famosos migrantes que vieram do Nordeste para a Baixada Fluminense. De infância humilde no sertão nordestino, ao chegar no Rio de Janeiro, a cidade de Duque de Caxias era apenas um conjunto de ruas de terra batida cercadas de loteamentos pantanosos e infestados de mosquitos. Sua ida ao Rio de Janeiro ocorre em 1926, em busca de emprego, e em um ano, após exercer diversas atividades profissionais, torna-se administrador de uma fazenda em Santa Cruz da Serra, bairro do município de Duque de Caxias, e pouco tempo depois, fiscal da prefeitura de Nova Iguaçu.

Adquire fama de pistoleiro, ganhando o apelido de o "Homem da Capa Preta", envolvendo-se com a política suja da região. Ao mesmo tempo, Tenório irá formar-se em Direito pela Universidade do Brasil, e inicia carreira política no ano de 1936, elegendo-se para a Câmara de Vereadores de Nova Iguaçu, cumprindo mandato até a decretação do Estado Novo. Como resultado, enriquece e torna-se uma poderosa e polêmica figura política, criando o seu próprio sistema clientelista local. Tenório irá se transformar num dos políticos mais poderosos e influentes da Baixada Fluminense. Sua marca registrada era a metralhadora, Lurdinha - presente do General Góis Monteiro, que ele frequentemente carregava ao peito, escondida sob uma indefectível capa preta. A arma, ao que se sabe, era utilizada para abater os "apoiadores" dos outros líderes políticos de grande expressão da cidade.

Esse estilo agressivo de enfrentar os adversários acabou criando uma aura de mito ao redor de Tenório, muito pelo fato de ser um político autodidata, desafiando a elite corrupta de Duque de Caxias. Com a volta do regime democrático, filia-se à UDN (União Democrática Nacional), em 1945, sendo eleito deputado estadual em 1947. Em 1950 será reeleito com a quarta maior votação do estado, e em 1954, ano em que funda o jornal Luta Democrática, é o candidato de maior votação do Rio de Janeiro para o cargo de Deputado Federal. Reeleito em 1958, novamente com a maior votação de seu estado, decide tentar o governo do recém-criado Estado da Guanabara pelo PST (Partido Social Trabalhista), terminando em terceiro lugar. Derrotado, volta para a Câmara, onde permanece até ser cassado em 1964 pelo Regime Militar. José Serra e Marcelo Cerqueira (então presidente e vice-presidente da UNE, União Nacional dos Estudantes) foram abrigados por Tenório em sua residência, conhecida como "Fortaleza de Caxias" (e que correspondia ao nome dado) nos primeiros dias do golpe. Numa entrevista com Flávio Cavalcante (o Faustão de hoje) e devido uma pergunta imbecil, o Tenório jogou o Flávio na piscina com microfone e tudo. Foi representado no cinema pelo ator José Wilker.

Depois de instalada a Ditadura, sua carreira política foi destruída e o cidadão Tenório levou uma vida comum, até sua morte.

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