LUZ DEL FUEGO: A PRIMA DONA DO NATURISMO BRASILEIRO

on quarta-feira, 7 de abril de 2021


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Dora Vivacqua ou Luz Del Fuego


São 102 anos desde que ela chegou e 52 de que se foi. Dançarina, cortesã, adestradora de cobras, ícone e mártir da causa da liberdade sexual feminina. Quem se lembra dela? O que se sabe sobre ela vem principalmente da imprensa da época e da biografia Luz del Fuego, a Bailarina do Povo, de Cristina Agostinho (Best Seller, 1994). 

Dora Vivacqua/ Luz Del Fuego, que nasceu na segunda-feira de Carnaval de 1917 numa tradicionalíssima família de políticos, empresários e intelectuais de Cachoeiro de Itapemirim, no interior do Espírito Santo. É interessante observar que neste ano do nascimento de Dora foi fuzilada em 15/10/1917 Mata Hari, a maior bailarina e cortesã como espiã da Alemanha contra a França.

Décima quinta filha do casal Antônio e Etelvina Vicacqua, desafiava a normalidade desde a infância. Na adolescência, se divertia zombando do recato das irmãs e provocando os garotos. 

Nos anos 1930, ainda adolescente, Dora foi morar com sua irmã Angélica. Era sistematicamente assediada por Carlos, o cunhado. E cedeu. Quando são flagrados, a culpa recai sobre ela. Psiquiatras somam A e B, do passado incomum e sua ação insana, e ela é diagnosticada com esquizofrenia. São dois meses de internação no Hospital Psiquiátrico Raul Soares, em Belo Horizonte. Era declarada oficialmente insana. 

Após a alta, um de seus irmãos, Achilles, a convence a passar uma temporada na fazenda de Archiau, outro irmão, 14 anos mais velho que ela. A moça passou a desfrutar de alguma liberdade, até o dia em que decidiu aparecer vestida de Eva – três folhas de parreira e duas cobras-cipós como braceletes – para o filho do administrador da fazenda.

Aos 21 anos Dora foge para o Rio de Janeiro.

Dora era audaciosa nos namoros e no modo de se vestir, odiava sutiãs. Muito antes do biquíni, ela já frequentava a praia de Marataízes (ES) de calcinha e um top feito de lenços. No Carnaval, suas fantasias, feitas por ela mesma, eram mínimas e transparentes. Para essa Eva, o Rio de Janeiro era o paraíso.

Lá ela retoma um antigo romance com José Mariano, filho do famoso arquiteto de mesmo nome e um playboy dos anos 1930 com o mesmo apetite por aventura que Dora.

Como conta o livro A Bailarina do Povo, Dora não era exatamente um talento da dança. Para se destacar ela recorre às cobras, uma de suas obsessões. A inspiração veio de um livro com imagens de sacerdotisas da Macedônia envoltas em cobras. Ela então compra jiboias da Amazônia e ensaia com elas por quase um ano, e passa a se chamar Luz Del Fuego.

Mas a fama só vem em 1944, quando ela se torna a atração da noite do Circo Pavilhão Azul como “a única, a exótica, a mais sexy e corajosa bailarina das Américas: Luz Del Fuego e suas incríveis serpentes”. Fazia seu espetáculo na companhia do casal de jiboias Cornélio e Castorina. 

Como seria sua marca registrada, Fuego apareceu nua. A primeira artista do Brasil a fazer isso. E logo passou a acumular uma longa ficha de delitos contra a moral e os bons costumes. Foi expulsa do Theatro Municipal num baile de Carnaval após se fantasiar de Noivinha Pistoleira e dar tiros de revólver no teto do teatro. Em São Paulo, parou o Viaduto do Chá porque decidiu divulgar seu show fantasiada de Iemanjá: nua, com cabelos e pelos tingidos de verde-esmeralda. Luz Del Fuego era o nome de um famoso batom argentino.

No fim dos anos 1940 Luz del Fuego é contratada pela primeira vez pelo casal Juan Daniel e Mary Daniel, donos do Follies, um pequeno teatro em Copacabana. O espetáculo Mulher de Todo Mundo fez muito sucesso e ela vai parar nos jornais. Sua família percebe, chocada, o que ela fazia e o quanto era célebre por isso.

O teatro de revista e suas vedetes são sensação no Brasil na metade do século 20. Revistas inteiras são dedicadas ao tema. A fama traz dinheiro e, principalmente, influência. Dona de uma educação esmerada, fruto da origem abastada, ela transita à vontade nas rodas de artistas, intelectuais e também nos corredores do poder.

Aos 30, estava em seu auge. E sentiu que era a hora de usar sua fama para abordar outras questões. Já vegetariana, sem fumar ou consumir bebidas alcoólicas, e com um óbvio interesse pela fauna e flora, tornou-se a primeira apóstola do naturismo no Brasil.

A nudez, que um dia foi vista como sintoma de uma mente transtornada, depois uma profissão, tornava-se um estilo de vida. No fim da década de 1940 Luz del Fuego se dedica intensamente à teorização do movimento naturista brasileiro.


Fotografada em seus trajes favoritos


Em 1949 lançou o Partido Naturalista Brasileiro (PNB), que teria a defesa do divórcio, da mulher e do nudismo como principais bandeiras. O partido, porém, não obteve registro.

Ela não se deu por vencida. Em 1950 usou de sua influência para pedir ao ministro da Marinha, Renato Guilhobel, a concessão de uma ilha para criar um clube de nudismo, a Ilha do Sol. Fuego funda o Clube Naturalista Brasileiro”.

A ilha, apesar de não fazer parte de qualquer roteiro turístico oficial – por razões óbvias –, receberia várias estrelas do cinema americano, como Errol Flynn, Lana Turner, Ava Gardner, Tyrone Powel, César Romero, Glenn Ford, Brigitte Bardot e Steve MacQueen. Pelo pioneirismo, 21 de fevereiro, data de nascimento de Luz del Fuego, é o Dia do Naturismo.

O que, no fim, pegou Luz del Fuego não foi seu lado provocadora, mas ecologista. Ela denunciou à polícia que certos pescadores estavam agindo com explosivos nos arredores da ilha. Isso resultava em grande mortandade de peixes. Com sua fama de “mulher da vida”, ninguém deu ouvidos. Exceto os pescadores: em 19 de julho de 1967, os irmãos Alfredo e Mozart Teixeira Dias descem à ilha, recebidos com alarde pelos cachorros e por uma Luz del Fuego portando um revólver.

Dizem a ela que seu barco está sendo roubado e a convencem a subir no seu. A alguns metros da costa, ela recebe uma pancada na cabeça e é aberta à faca, como um peixe, amarrada numa pedra e descartada ao mar. Voltam então para fazer o mesmo com seu caseiro, Edigar. Os corpos só são achados em agosto. Com um deles confessando o crime, os pescadores terminam presos. Ainda hoje, as ruínas das instalações do camping e morada final da ativista ainda podem ser vistas na Baía de Guanabara. 


Em 1946, no filme Trampolim da Vida


Exímia gestora da própria imagem, se vivesse hoje, Luz del Fuego estaria em casa na intenet. Teria odiadores, que a chamariam de “louca” para baixo. E seria tão relevante quanto foi em seu tempo. 

“Os saltos que a gente dá na sociedade, as conquistas, os avanços, são graças às corajosas, às loucas. A Luz del Fuego tinha, nos idos dos anos 40 e 50, uma consciência de ‘o corpo é meu e portanto sou eu quem diz o que fazer com ele’”, afirma Schuma Schumaher. 

“Ela tinha um projeto político para a sociedade”, diz Nataraj Trinta. “Mulheres não são só ‘aparição’ e performance, têm propostas, são capazes de disputar poder. Luz del Fuego foi um ícone da audácia, coragem, crítica à hipocrisia social.”  

       

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