A SOCIEDADE PAULISTANA BUCHA. TÃO SECRETA QUANTO A MAÇONARIA

on terça-feira, 12 de janeiro de 2021

 

Júlio Frank
Júlio Frank

        Quando éramos adolescentes nos idos de 1966 na querida cidade de Palmeira dos Índios-Al estudantes dos Colégios Estadual, Pio XII e Cristo Redentor, fundamos o Clube Lítero Social da Juventude (CLSJ) tendo como mentores espirituais os padres Mauro Daniel, Carlos Mesquita e Odilon Amador dos Santos. O CLSJ tinha por filosofia, alguns princípios fundamentais:

- Fazer o bem não importa a quem;

- Seu direito termina quando começa o do outro;

- Dar com uma mão sem que a outra saiba

- Amar ao próximo como a nós mesmos

Como jovens realizamos um excelente trabalho, inclusive nos aproximando, como católicos, da juventude evangélica através do seu principal líder o Mozart Noronha, hoje um grande pastor da Igreja Presbiteriana no Rio de Janeiro. Outro trabalho executado foi a construção da primeira casa do hoje bairro da Santa Maria em Palmeira. Foi nesta época que li pela primeira vez o que representou a Sociedade Secreta Bucha, em alemão a Burschenschaft (Sociedade de camaradas), através do livro A Sombra de Júlio Frank do jornalista Afonso Schmidt (1890-1964). 

Mausoléu dedicado a Júlio Frank. USP

Quem foi Júlio Frank, o fundador da Bucha?

Um alemão que chegou ao Brasil em 1831, excelente aluno no seu país, porém, com dívidas e problemas pessoais fugiu para o Brasil e foi residir na cidade de Sorocaba no interior paulista, passando a dar aulas particulares aos estudantes abastados desta cidade. Excelente professor de história, filosofia e geografia e com a ida dos estudantes sorocabanos para estudarem Direito em São Paulo, os estudantes levaram o mestre para ajudá-los na faculdade. Na época São Paulo contava com 11 mil habitantes e 300 estudantes universitários. Todos moravam em república, local alugado pelo estudante mais rico e os demais dividiam as despesas. Frank foi sempre protegido pelo sorocabano Rafael Tobias Aguiar (O Batalhão da Rota Tobias Aguiar é em sua homenagem) que o convidou para lecionar no curso de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

O professor Júlio Frank notava que excelentes alunos de Direito não tinham condições de se manter estudando devido dificuldades financeiras. Baseado no princípio de colaboração com o próximo e com alguns estudantes endinheirados ele fundou a Bucha, uma sociedade secreta com a finalidade de ajudar estes estudantes pobres. Só os membros da sociedade secreta sabiam quem estavam ajudando e os que recebiam a ajuda. Cada estudante que se formava e quando conseguiam participar do Estado como juízes, promotores, etc., tinham por obrigação conseguir emprego para os que estavam se formando. Para se ter uma ideia, todos os presidentes da República Velha desde Deodoro até o Washington Luiz (com exceção do Epitácio Pessoa) todos foram bucheiros. Alguns membros da sociedade criaram a Liga Nacionalista e aí iniciou a decadência da Bucha sendo a liga perseguida pelo Presidente Arthur Bernardes. Muitos padres que conheci tinham a filosofia da Bucha inclusive o Paulo Dimas Gomes de Brito, que me levou para o Recife. Estudante pobre não tinha condição de me manter e o padre Dimas me ofereceu o colégio São João, tinha de graça: moradia, estudo e livros, sendo minha obrigação trabalhar na Secretaria do Colégio junto ao secretário Rosendo Gomes Ramos. Nada mais dignifica o homem do que o estudo.

Enquanto houver um estudante pobre sendo ajudado nos seus estudos e de maneira discreta, jamais o espírito da Bucha irá morrer. Júlio Frank morreu de pneumonia precocemente em 1841 e por ser evangélico a Igreja Católica não permitiu o seu enterro no cemitério de São Paulo. Foi então sepultado no pátio da Universidade de São Paulo (USP).


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