HISTÓRIA DA FERROVIA EM PERNAMBUCO

on quarta-feira, 5 de agosto de 2020


TRIBUNA LIVRE

José Roberto Pereira

 pereiraoliveira895@gmail.com


                Colaboração: Alexandre Dimas







Pernambuco foi o primeiro Estado do Nordeste e o segundo do Brasil a ter uma estrada de ferro: a ferrovia Recife-Cabo, inaugurada a 08 de fevereiro de 1858, com extensão de 31,5 km ligando a localidade de Cinco Pontas, no Recife, ao município do Cabo. À época, existia no Brasil apenas a Ferrovia Mauá, também uma pequena ferrovia construída em Petrópolis, Rio de Janeiro.

O projeto pernambucano, denominado "Estrada de Ferro do Recife ao São Francisco", foi executado em várias etapas, com o objetivo de dotar o Estado de uma malha ferroviária para o transporte de mercadorias e passageiros. Após a etapa Recife-Cabo, vieram as linhas Ipojuca-Olinda-Escada e Limoeiro-Ribeirão-Água Preta-Palmares.

O trecho entre Palmares e Catende foi inaugurado em 1882. Em seguida, o trem chegou a Garanhuns (1887), Mimoso (1911), Arcoverde (1912) até atingir o município sertanejo de Salgueiro.

Durante muito tempo, o transporte ferroviário exerceu decisiva influência na economia do Estado. A partir da metade da década de 1960, as ferrovias pernambucanas ficaram praticamente abandonadas e acabaram dando lugar às rodovias.

Apesar do abandono, atualmente alguns trechos de trilhos ainda resistem ao tempo e, ao longo do que foi a ferrovia, ainda é possível encontrar vários prédios (muitos deles em ruínas) que serviram de estações.


Inauguração e festa

A história da ferrovia em Pernambuco começa no dia 07 de agosto de 1852 quando o governo imperial concedeu, através do decreto 1.030, aos irmãos Mornay (os engenheiros anglo-brasileiros de origem francesa Edward e Alfred Mornay) o direito de construir e explorar durante 90 anos "um caminho de ferro" entre as cidades do Recife e o então povoado de Água Preta. Essa concessão era apenas a parte inicial de um projeto maior que estendia a estrada de ferro até as margens do Rio Sâo Francisco.

Como a concessão aos irmãos Mornay abrangia apenas a primeira parte do plano, a 13 de outubro de 1853 o governo assinou contrato (decreto 1.246) com a "Recife and São Francisco Railway Company", empresa com sede em Londres, que promoveu algumas alterações no projeto. Uma dessas modificações foi a de que o trecho inicial da ferrovia não deveria dirigir-se a Água Preta, mas alcançar a confluência dos rios Una e Piaragi, podendo ser prolongado até as proximidades da Cachoeira de Paulo Afonso.

Estabelecidos os termos do negócio, a 07 de setembro de 1855 foi lançada a pedra fundamental e tiveram início as obras do que seria a primeira estrada de ferro pernambucana: um trecho de 31,5 km ligando a localidade de Cinco Pontas, no Recife, ao município do Cabo. Esta seria a segunda estrada de ferro brasileira (pois a única existente à época era a Ferrovia Mauá, em Petrópolis, Rio de Janeiro) e tinha o seguinte percurso: Cinco Pontas-Afogados-Boa Viagem-Prazeres-Cabo.

A Estrada de Ferro Recife-Cabo foi inaugurada em 08 de fevereiro de 1858. Mas sua construção demorou mais do que o previsto no projeto, por conta de alguns atropelos. O principal entrave foi uma epidemia de cólera-morbo que se alastrou em Pernambuco em 1856, matando mais de 30 mil pessoas, inclusive a maior parte dos engenheiros vindos da Inglaterra. A catástrofe não só forçou a diminuição do ritmo das obras, como também provocou a total paralisação dos trabalhos por várias vezes. Outro atropelo, foi que os donos de diligências (iguais às do velho oeste) arrancavam durante a noite os trilhos da estrada de ferro, dificultando as obras. Com a chegada do trem, foi o fim das diligências. Nesta estrada, no trecho Cabo/Catende, existe um túnel com mais de 200 metros dentro de uma pedra e foi aberto com instrumentos rudimentares e com mão de obra escrava.

Quando finalmente foi inaugurada, a ferrovia tornou-se uma das principais atrações dos recifenses e as viagens entre o Recife e o Cabo viraram moda. Havia dois trens, um saindo do Recife às nove da manhã e outro às cinco da tarde e a passagem na 1ª classe custava quatro mil réis. Os jornais publicavam anúncios da maravilhosa excursão "num cômodo banco da carruagem puxada por locomotiva possante, vendo pelas janelinhas canaviais e cajueiros, praias e coqueirais, mangues e colinas".

O primeiro trem pernambucano fez tanto sucesso que chegou a disputar público com os espetáculos apresentados no Teatro Santa Isabel, que na época havia reaberto depois de uma tremparada fechado para reformas. No cabo, o Grande Hotel passou a utilizá-lo em suas campanhas para atrair turistas: oferecia hospedagem "com decentes e abundantes iguarias, belo banho, ótimo jardim". Tudo, como num verdadeiro pacote turístico, acompanhado de "uma excelente banda de música militar para os divertimentos da noite".

O trem que a 08/02/1858 partiu da estação de Cinco Pontas para o Cabo transportou, na sua viagem inaugural, mais de 400 pessoas. Após a tradicional bênção, o comboio partiu às 12 horas e trinta minutos depois atingiu o ponto de chegada, onde uma multidão o aguardava. Na chegada ao Cabo, o superintendente da "Estrada de Ferro do Recife ao São Francisco", J.T.Wood, discursou louvando o imperador do Brasil pela empreitada. O presidente da Província de Pernambuco saudou a Rainha Vitória. E a festa durou o dia todo.

Não podemos falar de construção das estradas de ferro em Pernambuco sem mencionar o engenheiro Franco-Brasileiro Augusto Henrique Millet, tetravô materno dos meus filhos.

Tendo casa de veraneio no então povoado do hoje município de Tamandaré-PE, foi responsável pela construção da estrada de ferro que ligava Tamandaré a Barreiros. Além de Engenheiro era também Jornalista e trouxe para Tamandaré uma prensa, montou uma pequena tipografia e lançou o Jornal Independente em 7 de setembro de 1859. Quando o vice-Almirante Joaquim Marques Lisboa e na presença de Pedro II veio a Tamandaré levar para o Rio de Janeiro os ossos do seu irmão Manoel Marques Lisboa morto em 1824 na Confederação do Equador, foi agraciado pelo Imperador com o título de Barão de Tamandaré em 14 de março de 1860. O Barão de Tamandaré dizimou a esquadra paraguaia na famosa Batalha do Riachuelo. Às 14 horas do dia 22 de setembro de 1894 ao atravessar a Rua Princesa Isabel foi atropelado por um trem aos 74 anos de idade. Seu grande amigo das causas abolicionistas foi Joaquim Nabuco (1849-1910).

ATENÇÃO, MUITA ATENÇÃO!

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O artigo será colocado no blog.



Estação Central, 1890

Maria Fumaça em movimento



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