LIVRO PERNAMBULANO, SIM SENHOR! PARTE 4

on sábado, 5 de setembro de 2020

  TRIBUNA LIVRE

José Roberto Pereira

 pereiraoliveira895@gmail.com



O INÍCIO DE TUDO - FATOS HISTÓRICOS


            Iniciando como Capitania e posteriormente como Estado Pernambuco (Buraco N’ Água), sempre esteve à frente de movimentos de libertação. O nativismo teve início nos Montes Guararapes, onde em duas batalhas memoráveis expulsamos o invasor holandês. A consciência nacional e a união de brancos, negros e índios na formação do nosso Exército como unidade de defesa do Território teve início em Pernambuco. Este é um fato que não se pode negar.

            É importante esclarecer que não fomos atacados pela Holanda como nação e sim pela Cia das Índias Ocidentais, que era uma empresa de bandeira Holandesa, porém com iniciativa particular de exploração de riquezas em qualquer parte, sendo Pernambuco escolhido pela sua riqueza e boa localização para o abastecimento de navios.

            Maurício de Nassau, Gerente desta Empresa, (Cia das Índias Ocidentais), procurou na amizade com pernambucanos o desenvolvimento desta região, emprestando inclusive dinheiro a juros baratos para a plantação de cana de açúcar.

            Com a transferência de Maurício de Nassau para Angola, na África, teve início nossa guerra de libertação e, como já foi falado, o nascimento de nossa consciência como nação.

            A Coroa de Portugal nunca viu com bons olhos esta nossa ideia de autonomia e procurou mutilar nosso território de todas as maneiras, diminuindo sua força de poder na região nordestina.

            O Século 18 foi aquele em que Pernambuco sofreu as maiores mutilações em seu Território, passando da maior Capitania em extensão territorial a um Estado bem menor. As terras iniciais de Pernambuco iam para Oeste até a divisa do Tratado de Tordesilhas, assinado entre Portugal e Espanha. A primeira mutilação de suas terras foi em 1715, quando perdeu o Estado do Piauí, pois a primeira Capital desta região foi OEIRAS, que era considerada dependente de Olinda. O Estado do Piauí passou a ter sua jurisdição colocada sob a bandeira do Maranhão. Outra grande mutilação foi quando o Conde de Assumar passou para a Capitania de Minas Gerais (Mello M 1985:47), toda a porção de terra que ficava entre o Rio Carinhanha e as nascentes do Rio São Francisco. (18 de abril de 1721). As Capitanias eram divididas entre Gerais e Anexas, sendo Pernambuco classificado como Capitania Geral e responsável pelo comando das Capitanias anexas do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas, que era considerada como Comarca de Pernambuco.

            Resumindo, todas as terras do Norte de Minas até o estado do Piauí eram consideradas sob comando Pernambucano. Para se ter uma ideia, o Ceará passou a ser governado por Pernambuco de 13 de julho de 1656 até 17 de janeiro de 1799. A Paraíba ficou como território de Pernambuco de 29 de dezembro de 1675 até 17 de janeiro de 1799. O Rio Grande do Norte, por sua vez, foi de Pernambuco de 11 de janeiro de 1701 a 20 de março de 1817. A saída do Rio Grande do Norte do território de Pernambuco foi um castigo pela sua participação no movimento revolucionário de 1817 (Costa FAD 1953 VOL 7 46/48). Como retaliação pela Revolta de 1817, a Comarca de Alagoas foi desmembrada de Pernambuco em 16 de setembro do mesmo ano. Outro castigo imposto pelo Imperador Pedro I foi retirada da Comarca de São Francisco, que representava mais de 50% do Território de Pernambuco, para o Estado da Bahia (7 de julho de 1824).

            Esta mudança foi provisória e, no entanto, perdura até hoje.

 

            OBS.: Quem nasce na divisa de Alagoas e Pernambuco, como é o caso do autor deste trabalho, não sabe sua naturalidade, pois ama os dois estados da mesma maneira, como disse o poeta quebrangulense Pacífico Pacato Cordeiro Manso: “Quem nasce na divisa estes são Pernambulanos“.

_________________________________________________________________________________


IDEIAS DE LIBERTAÇÃO

PERNAMBUCO REPUBLICANO

 

            A maioria dos países do mundo era governado por imperadores, ditadores ou reis. O regime de República era exceção como os Estados Unidos com uma República Democrática muito nova (iniciada em 1775) e a França com sua República iniciada com a Revolução Francesa de 1789.

            Verifica-se que a República não tinha a sedimentação necessária como regime e foi com estas ideias que Pernambuco partiu para modificar seu Estado de Direito em 1817.

            Governava Pernambuco nesta época, CAETANO PINTO DE MIRANDA MONTENEGRO.

            Este movimento teve seu lado de filosofia adquirido no Seminário de Olinda, onde as ideias republicanas tomaram eco. Foi um movimento de grande importância, pois representou de fato e de direito o primeiro movimento contra o domínio português no Brasil. Sendo elaborado com a finalidade principal de organizar um Governo Republicano, este movimento não teve o êxito esperado, pois não conseguiu alcançar o povo em sua base como os escravos e os pequenos comerciantes, ou seja, o povo não vibrou com as mudanças.

            Foi simplesmente uma mudança de liderança e ideias, sem a propaganda devida para alcançar as bases. Um fato não comprovado afirma que o comerciante Antônio da Cruz Cabugá entrou em contato com oficiais franceses exilados em Recife para sequestrar o Imperador Napoleão Bonaparte, que estava preso na Ilha de Santa Helena, e trazê-lo para Pernambuco. Napoleão seria uma bandeira para a República que estava nascendo. Caso isto tivesse acontecido, Pernambuco iria criar sérios problemas com a Inglaterra, o que não seria bom para a causa revolucionária.

            JOSÉ DE BARROS LIMA, “O LEÃO COROADO”, PRINCIPAL ANTEPASSADO.

            Nascido em São Lourenço da Mata-PE em 1764 engajou-se como soldado no Regimento de Infantaria do Recife em 1783. Foi promovido a Alferes (Tenente), porém encontrou dificuldades em promoção simplesmente por ser brasileiro.

            Apenas em 1794 foi estudar Matemática em Lisboa e na sua volta foi promovido a Primeiro Tenente do Regimento de Artilharia em Olinda.

            Em 1815 foi promovido a Capitão, posto que ocupava quando do Movimento Revolucionário em 1817. Nesta época o Capitão José de Barros Lima já tinha 53 anos de idade.

            Da sua família, se tem notícia de dois filhos: José de Barros Lima Filho e Ana Joaquina de Albuquerque casada com José Mariano de Albuquerque Secretário Geral do Regimento de Artilharia em Olinda. Ana Joaquina de Albuquerque tinha nesta ocasião 16 anos incompletos.

            Em 1817, Pernambuco era governado pelo Sr. CAETANO PINTO DE MIRANDA MONTENEGRO e, segundo o povo: Caetano no nome, Pinto na coragem e negro nas ações e como se sabe, a voz do povo é a voz de Deus.

            Nesta época Dom João VI Príncipe Regente do Reino Unido Brasil/Portugal e Algarves, teve a ideia de conquistar a Guiana Francesa em retaliação pelo que fez Napoleão Bonaparte, forçando a saída da Família Imperial Portuguesa para o Brasil. Pernambuco teria que cooperar com 1000 Homens e como não havia motivação no seio da tropa apenas 300 homens se apresentaram para a empreitada.

            A elite pernambucana não se conformava com a situação de caos do Governo Caetano Pinto e teve início a conspiração republicana.

            Várias autoridades de prestigio participaram deste movimento revolucionário como o ouvidor de Olinda, Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, irmão de José Bonifácio de Andrada (Patriarca da Independência).

            Quando os fatos foram apresentados ao Governador Caetano Pinto ele achou que os PERNAMBUCANOS DE DIVERTEM E NADA PODEM FAZER (GALVÃO SV 1910 3 V 209/217). Toda revolta tem o seu lado romântico e esta de 1817 não poderia ser diferente. O comerciante Domingos José Martins estava apaixonado por uma filha do Governador e como não teve acolhido este namoro, o comerciante Domingos José Martins passou a conspirar contra o seu futuro sogro.

            Durante o período que durou a Revolução, Domingos José Martins casou com a filha do Governador na igrejinha da Jaqueira, em Recife, teve uma lua de mel atribulada e acabou fuzilado, tudo isso em menos de 2 meses.

            Recebendo uma denúncia formal, o Governador solicitou ao Brigadeiro Manoel Joaquim Barbosa de Castro e ao General José Roberto Pereira da Silva que fossem verificar o que de fato estava acontecendo. Prepotente, desumano, grosseiro e imprevidente, o Brigadeiro Barbosa de Castro se dirigiu aos oficiais brasileiros com palavras não amistosas, provocando-os a todos.

            Todos os oficiais brasileiros estavam armados e o clima ficou tenso entre eles.

            Neste instante, foi preso o Capitão Domingos Teotônio Jorge Pessoa da Veiga (tronco inicial das famílias Pessoa e Veiga).

            O Capitão Domingos Teotônio Jorge, sob protesto, gritava TRAIÇÃO! TRAIÇÃO!

            Na sequência dos fatos, seria preso o Capitão José de Barros Lima, o qual puxou da espada e, junto com seu genro, Capitão José Mariano de Albuquerque, matou o enviado do Governador, Brigadeiro Manoel Joaquim Barbosa de Castro.

            Os descendentes destes três Capitães, José de Barros Lima, Domingos Teotônio Pessoa da Veiga e José Mariano de Albuquerque, tornaram-se fugitivos e que foram para o Sul de Pernambuco.

            Para não ficarem isolados no movimento, os patriotas enviaram emissários para os estados vizinhos. Para a Bahia, foi enviado José Inácio de Abreu e Lima, conhecido como Padre Roma, pois tinha sido seminarista em Olinda. Ao chegar às praias baianas foi preso e, num julgamento sumario, foi fuzilado. Quem assistiu a este fuzilamento foi o próprio filho do Padre Roma, o então Capitão Abreu e Lima.

            Já como General, Abreu e Lima foi o braço direito de Simão Bolívar na libertação dos países como Bolívia, Colômbia, Venezuela.

            Vale salientar que, quando da morte do General Abreu e Lima, o mesmo por ser maçom, não pode ser enterrado em cemitério católico, sendo seu corpo sepultado no cemitério dos Ingleses em Recife.

            Um fato que merece comentário nesta revolução foi à figura de José Carlos Mayrink da Silva Ferrão. Tinha sido Secretário do Governador Caetano Pinto, seguiu no posto com os novos governantes revolucionários e continuou no posto, após o movimento ser vencido, ainda como Secretário do Governo seguinte à revolução que foi chefiado pelo General Luís do Rego Barreto.

            Ficar no poder em situações tão diferentes só tivemos bem mais tarde o Pernambucano Marco Antônio de Oliveira Maciel que passou por diversos governos sem perder o poder.

            O sonho da República em Pernambuco durou pouco, pois entre março de 1817 a 20 de junho do mesmo ano tudo ficou definido, com a morte por fuzilamento dos principais patriotas. No combate do engenho Trapiche, em Ipojuca, foram presos, enviados para Bahia e fuzilados, Domingos José Martins e José Mariano de Albuquerque Cavalcante, este casado com a filha de José de Barros Lima, Ana Joaquina de Albuquerque.

            Os amigos e quase irmãos, Capitães José de Barros Lima e Domingos Teotônio Jorge Pessoa da Veiga foram presos em Paulista em 6 de junho de 1817.

            Já no dia 20 de junho foram fuzilados na Praça da República, em Recife. Foram conduzidos para a morte vestidos com uma alva, escoltados pela tropa e acompanhados pelas confrarias religiosas. Foram fuzilados junto com José de Barros Lima e Domingos Teotônio Jorge, o Padre de Itamaracá, Pedro Tenório e Antonio Rabelo. Após a execução, os corpos foram esquartejados, ficando expostos em locais bem visíveis e as vísceras enterradas em vala comum.

            Apesar de tudo isto, o espírito do Pernambucano em se tornar independente não morreu e, movimentos posteriores como a Convenção de Beberibe e a Confederação do Equador, provam esta tenacidade revolucionária.


0 comentários:

Postar um comentário