Antônio
Fernandes Amorim esse era o nome de batismo da
criança que nasceu em 15 de agosto de 1901 no povoado Mata Escura em Viçosa, Alagoas (há também registro
que teria nascido no povoado Formigas em
Paulo Jacinto). Era filho de Joaquim Barbosa Amorim (Joaquim Garapeiro) e Tertuliana Maria da Conceição,
além de citar que ele teve sete irmãos e que um deles, Manoel Barbosa Amorim (Cacau), era curandeiro de
animais, “sua mãe falecera durante uma viagem de peregrinação ao Juazeiro do
Norte, tendo a criança ficado aos cuidados do próprio Padre Cicero, que o internou no Convento das Chagas em Canindé, Ceará.
Em 1927,
com 26 anos de idade, foi transferido para Recife, onde permaneceu por poucos anos no Convento da Penha. Em Pernambuco conheceu a Ordem Terceira de São Francisco de Assis, passando a
conviver com os capuchinhos italianos. Era uma
organização de leigos que adotava a penitência, a fé e a
caridade cristã. Esteve ainda no Convento de São Francisco,
em Salvador, Bahia.
O que levou Antônio a se transformar no Beato Franciscano foi a missão que lhe atribuiu o padre
Daniel em um sonho. Queria que ele
construísse uma capela à Santa Terezinha e
nela fossem depositados seus ossos. Inicialmente construiu
uma capela em Batalha-AL, porém, foi expulso com os seguidores. O Beato comprou
umas terras entre Quebrangulo e Paulo Jacinto e construiu a Vila São Francisco.
O Franciscano sabia da influência política que
tinha entre os seus seguidores e utilizava esse poder para beneficiar a Vila São Francisco.
Nas eleições para a prefeitura de
Palmeira dos Índios, em 1950, por exemplo, teve participação decisiva na
vitória de Manoel Sampaio Luz (Juca
Sampaio), sobre Humberto Mendes.
Após os
primeiros anos de mandato, o prefeito não deu a atenção prometida ao povoado e o Beato, sentindo-se desprezado e traído pelo
mandatário, se aproximou de Humberto Mendes por
indicação do deputado Abrahão Moura.
Esse apoio garantiria a eleição para deputado estadual de
Humberto Mendes nas eleições de 3 de outubro de 1954, diminuindo as chances do
filho de Juca Sampaio, Geraldo Sampaio, que
tentava ocupar a vaga de Remi Maia, chamado a
concorrer à Câmara dos Deputados.
Como se percebe, o Beato era peça
decisiva no xadrez político do agreste alagoano naqueles anos e a
sua opção pelos Mendes provocou inquietação entre os políticos das famílias Sampaio e Maia.
No dia 30 de julho de 1954, uma sexta-feira,
a Vila São Francisco vivia os preparativos para a
tradicional festa de aniversário do Franciscano, prevista para
acontecer entre os dias 12 e 15 de agosto.
No meio da tarde, dois homens vestindo grossos capotes caminhavam
pela Vila fazendo perguntas sobre a vida e os costumes do Beato. Haviam chegado ao povoado na noite
anterior e tinham pernoitado no mato para não chamarem a atenção.
Como não conheciam o Franciscano, pediram a um dos
moradores para apontar quem era ele. Pensando se tratar de novos seguidores, o
que era muito comum acontecer, foi indicado a eles um senhor baixo e magro de terno branco.
Passaram
então a segui-lo e entraram logo após ele na capela de São Francisco,
onde o Franciscano cumprimentou aos vários fiéis e saiu. Quando na rua, o Beato
percebeu que uma lâmpada piscava em um poste
defronte ao orfanato.
Passava um
pouco das 8 horas da noite quando pediu para que Francisco Inácio da Silva providenciassem
uma escada enquanto ia até a sua casa buscar outra
lâmpada.
Estava sobre
a escada rosqueando a nova luminária quando recebeu dois tiros de um dos
pistoleiros e mais dois do outro. Mal conseguiu
descer a escada e caiu para morrer em seguida.
Francisco Inácio tentou impedir os tiros se jogando
contra os autores dos disparos, mas também foi atingido mortalmente.
Para garantir que o crime tinha sido realizado como contratado, um dos assassínios aproximou-se do corpo caído
do Beato e deferiu-lhe mais dois tiros à
queima-roupa.
Na fuga,
foram perseguidos a pé por Azarias Gracindo da Rocha e Francisco Luiz da Silva, este último também foi
atingido por um dos tiros disparados. Foi socorrido e transportado para Maceió.
Há a informação, não comprovada, que faleceu posteriormente.
Azarias Gracindo ainda continuou na perseguição e somente não morreu porque os
assassinos não tinham mais balas. Mas só desistiu ao receber uma coronhada de revólver na cabeça.
O enterro do Franciscano ocorreu na tarde do domingo, 1º
de agosto, e seu caixão foi levado por uma multidão
de fiéis.
Humberto
Mendes, candidato a deputado, acompanhava as
investigações indicando quem eram os possíveis
mandantes e pressionando a Polícia a agir rapidamente.
Com o inquérito em andamentos e percebendo que a garantia de proteção dadas pelos contratantes poderia
falhar, os criminosos trataram de fugir.
Um deles, Luís Rodrigues, mais conhecido
como Luís Lambiqueiro, recebeu dois mil
cruzeiros em Palmeira dos Índios e
foi orientado a procurar abrigo em uma fazenda de União dos Palmares.
De lá tomou destino ignorado e ninguém mais teve notícias dele.
José Guilherme da
Silva, o Cacutá, também chegou
em Palmeira dos Índios na tarde da terça-feira, 3 de
agosto. Teve contato com um dos mandantes, recebeu
seus dois mil cruzeiros e depois foi levado até Bom Conselho em Pernambuco.
Com a prisão
de Cacutá e o confissão de várias testemunhas, a
Polícia alagoana divulgou o nome de todos os envolvidos.
O
jornal Correio da Manhã de 8 de setembro de 1954 noticiou
a relação dos supostos responsáveis pelo crime: Remi Maia, deputado estadual e médico muito
conceituado; Manoel Sampaio Luz (Juca
Sampaio), prefeito de Palmeira dos Índios; Rubem Amorim,
bacharel; Frederico Maia, patriarca da
família Maia; Ari Maia, irmão de Remi; José Gomes e Luiz Correia. Além
dos autores materiais: José Guilherme da Silva,
Cacutá, e Luís Rodrigues, o Luís Lambiqueiro.
Foram todos presos para julgamento.
O júri foi
marcado para o dia 20 de junho de 1955, no Clube Monte Castelo, em
Quebrangulo. Os indiciados como mandantes conseguiram separar os seus
julgamentos do de Cacutá, que surpreendentemente
desistiu do júri popular.
O juiz Olavo Cahet presidiu o júri,
que teve na acusação o promotor público de Anadia, Néo Fonseca, substituindo o titular da comarca. Seus
auxiliares foram Sebastião Teixeira e João Sebastião Teixeira.
Na defesa atuaram Nelson Tenório, José Loiola Correia, José Cavalcante Manso e José Laurindo, o Juca Laurindo.
José
Magalhães, José Cincinato Tenório, José Soares Sobrinho, Joaquim Florentino
Tenório, José Zenou Costa, Severino de Andrade Bitu e Ataíde Teixeira da Silva
constituíram o Conselho da Sentença.
Jerônimo da Cunha
Lima foi o escrivão e o júri
se estendeu até as três horas da madrugada.
A defesa, em sua sustentação, alegou que as confissões que apontavam os quatro réus como mandantes
do crime foram conseguidas através de tortura. O júri
concordou e todos foram absolvidos por sete a zero.
O promotor, entretanto, apresentou apelação em relação
a sentença de Ari Maia, que não chegou a participar
do outro júri. Adoeceu na prisão, de onde
foi retirado pelo irmão deputado para tratamento em
Maceió. Não resistiu e faleceu no dia 10 de novembro de 1956 na Casa de Saúde Lessa Azevedo, depois renomeada para Paulo
Netto.
No primeiro julgamento, Cacutá foi condenado
a 36 anos de reclusão. Após recurso e um segundo
julgamento, pegou 29 anos e 6 meses: 16 anos pela morte
do Franciscano e treze anos e seis meses pela morte de Francisco Inácio da
Silva. Cumpriu treze anos e meio de cadeia e saiu
em livramento condicional.